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Quarta-feira da Semana Santa

D. Laurence Freeman

Pode ser que o vírus estivesse fisicamente presente nos seres humanos há muito tempo. Certas circunstâncias tornaram possível a terrível mutação que estamos vivenciando. Em algum momento, vamos compreender o aspecto científico e encontrar uma vacina.

Não culpamos o vírus pessoalmente por estar descarregando seu ódio, não mais do que culpamos as condições metereológicas pelos desastres naturais. Seríamos tolos, porém, se não questionássemos o elemento humano – desrespeito ao meio ambiente, injustiça social, exploração dos mais fracos – na criação destas circunstâncias desastrosas. Porque todo efeito tem uma causa.

Mas no nível humano – ontem eu estaca refletindo sobre o caráter de Judas e nossa capacidade de trair – a responsabilidade pessoal não pode ser evitada. Sempre apontamos o dedo para culpar alguma coisa. O marido de uma amiga minha deu a ela, num ano, um presente de Natal indesejável ao confessar que estava tendo um caso com a melhor amiga dela duarante a última década. Num instante (o mesmo tempo que Satã levou para entrar em Judas) ele transmitiu o vírus da infidelidade que sacudiu o mundo, interna e externamente. Não demora muito para matar uma pessoa. Tempos depois, quando a vida dela tinha começado a se reorganizar, ela me contou que ainda estava furiosa com ele, mas que conseguia ver como tudo tinha acontecido e o próprio envolvimento dela nas circunstâncias por trás do colapso do relacionamento deles. Ele ficara altamente estressado no trabalho, emocionalmente distante, e ela tinha permitido que ele ficasse cada vez mais afastado, convencendo a si mesma de que esta era a melhor maneira de amá-lo.

Esta semana, estamos vivenciando a história dos últimos dias de Jesus. É uma história enraizada na memória coletiva da humanidade. Ela nos ajuda a fazer uma leitura da história de nossas vidas e a encontrar sentido no que não tem sentido, luz na escuridão. Enxergar a escuridão é o princípio da visão espiritual. O que a história não nos permitirá fazer é nos evadirmos da verdade ou negar a realidade. A menos que cheguemos a uma compreensão clara e profunda do significado de nossa própria história, estaremos condenados a repetir ações obscuras até o fim da história de nossas vidas. Então, não sabemos porque Judas se tornou o arquétipo da traição. E, se soubéssemos, teríamos tornado essa história pessoal demais, evitando que ela estivesse enraizada na história da humanidade.

Tudo o que podemos dizer é que nossas ações obscuras estão a um passo de onde a escuridão previamente já nos tocou e traumatizou. Quem traíu Judas? Por que ele não suportou a luz? Seja qual for a causa de sua traição, ela levou ao triunfo das forças obscuras na Paixão de Cristo. A partir deste momento de escuridão, Jesus se torna o Cristo: seu sofrimento se tornou universal.

Nós lemos a história ao permitir que ela nos leia. Vemos como nosso sofrimento e escuridão estão contidos na história. Simplesmente aceitamos o que não podemos evitar. Com a sabedoria que isto nos traz, penetramos na escuridão. Precisamos apenas enconrtar um caminho que nos conduza a seu interior e através dela.

O caminho é nosso guia através da escuridão. “Vem o Príncipe do Mundo. Ele não tem nada em mim. O mundo deve saber que amo o Pai e faço como o Pai me ordenou. Levantai-vos e vamos embora daqui.”
(Jo 14, 30-31)

 


 

Texto original em inglês

Wednesday Holy Week

The virus may have been physically present in humans for a long time. Circumstances came together that made the terrible mutation we are experiencing. Eventually, we will understand the science and find a vaccine. We don’t personally blame the virus itself for what it is wreaking, any more than we blame meteorological conditions for natural disasters. We would be foolish however, not to ask about the human element – disrespect for the environment, social injustice, exploitation of the weak - in the creation of these disastrous circumstances. Because every effect has a cause.

But at the human level – yesterday I was reflecting on the character of Judas and our capacity for betrayal – personal responsibility cannot be avoided. We always point a finger of blame somewhere. The husband of a friend of mine gave her an unwelcome Christmas present one year by confessing that he had been having an affair with her best friend for the past decade. In an instant (the same time it took for Satan to enter Judas) he transmitted the virus of the infidelity that shattered her world, inwardly and outwardly. It does not take long to kill someone. But later, as her life had begun to re-form, she told me she was still mad at him, but that she could see how it had happened and her own involvement in the circumstances behind the collapse of their relationship. He had become highly stressed at work, emotionally distant, and she had allowed him to become increasingly separate, convincing herself that this was the best way she could love him.

This week we are living the story of the last days of Jesus. It is a root story in humanity’s collective memory. It helps us read the story of our lives and see sense in the senseless, light in the darkness. To see darkness is the beginning of spiritual vision. What the story will not allow us to do, is evade the truth or deny reality. Unless we come to insight into the meaning of our own story, we will be condemned to repeat the works of darkness until the story of our life ends. So, we don’t know why Judas became the archetypal betrayer. And, if we did, it would make the story too personal and prevent it being the root story of humanity.

All we can say is that our dark deeds are bound to what darkness has previously touched and traumatised us. Who betrayed Judas? Why could he not bear the light? Whatever its cause, his betrayal lead to the climactic triumph of the dark forces of the Passion of Christ. From this moment of darkness Jesus becomes the Christ: his suffering has become universal.

We read the story by allowing it to read us. We see how our suffering and darkness are already contained in the story. We simply accept what we cannot avoid. With the wisdom this brings we penetrate the darkness. We need only a path to guide us into it and through it.

The path is our guide through the dark. ‘The Prince of this world approaches. He has no rights over me; but the world must be shown that I love the Father and do exactly as he commands; so up, let us go forward.’ (Jn 14:30-31)