Já temos tudo
De John Main OSB, “Crescendo em Deus”, THE WAY OF UNKNOWING (Nova York: Crossroad, 1990), pp. 79-81.
Qual é a diferença entre realidade e irrealidade? Acho que uma maneira de entender isso é ver a irrealidade como o produto do desejo. Uma coisa que aprendemos na meditação é abandonar o desejo, e aprendemos isso porque sabemos que nosso convite é viver totalmente no momento presente. A realidade exige quietude, silêncio e presença. Esse é o compromisso que fazemos ao meditar. Como todos podem descobrir por experiência própria, aprendemos na quietude e no silêncio a nos aceitar como somos. Isso soa muito estranho para os ouvidos modernos, principalmente para os cristãos modernos, que foram criados para praticar tanto esforço ansioso: “Eu não deveria ser ambicioso? E se eu for uma pessoa má, não deveria desejar ser melhor?”
A verdadeira tragédia de nosso tempo é que estamos tão cheios de desejo, por felicidade, sucesso, riqueza, poder, seja o que for, que estamos sempre nos imaginando como poderíamos ser. Tão raramente chegamos a nos conhecer como somos, e a aceitar nossa posição atual. Mas a sabedoria tradicional nos diz: saiba que você é, e que você é como é. Pode muito bem ser que sejamos pecadores e, se o formos, é importante que saibamos que somos. Mas muito mais importante para nós é saber, por experiência própria que Deus é a base do nosso ser… Esta é a estabilidade de que todos precisamos, não o esforço e o movimento do desejo, mas a estabilidade e a quietude do enraizamento espiritual. Cada um de nós é convidado a aprender em nossa meditação, em nossa quietude em Deus, que já temos tudo o que é necessário. [….]
Após a meditação: de Santo Agostinho de Hipona, “The Confessions,” AN ANTHOLOGY OF CHRISTIAN MYSTICISM, ed. Harvey D. Egan (Collegeville, MN: The Liturgical Press, 1996), p. 68.
Há muito tempo eu te amei, ó Beleza, tão antiga e tão nova, há muito tempo eu te amei! E eis que estavas dentro de mim e eu estava fora, e lá te procurei, lá me lancei de cabeça nas coisas bem formadas que você fez. Estava comigo, e eu não estava contigo. . .. [Mas] chamaste e clamaste a mim e rompeste minha surdez; brilhaste sobre mim e dissipaste minha cegueira; sopraste fragrância e eu inspirei meu fôlego. . . .