Carta 26 – O Poder do Silêncio
Cara(o) Amiga(o)
A essência da meditação é quietude e silêncio. Tanto o silêncio externo quanto o interno. O silêncio externo é difícil de ser encontrado em nosso mundo de hoje. Somos bombardeados por trivialidades e distrações através da mídia. Erich Fromm coloca isto muito bem em seu livro ‘Psicanálise e Religião’:
“Temos as mais extraordinárias possibilidades de comunicação na imprensa, rádio e televisão [atualmente podemos acrescentar ainda a Internet], e somos alimentados diariamente com disparates que seriam ofensivos à inteligência de crianças caso não tivessem sido amamentadas com eles”. Estamos cercados por barulho e de tal modo habituados a ele, que sua ausência nos soa estranha e pouco familiar; até mesmo assustadora. Necessitamos de coragem para criar bolsões de silêncio externo, no nosso dia-a-dia, além dos nossos períodos de meditação, onde não falaríamos com outras pessoas, seja pessoalmente ou por telefone, onde não escutaríamos rádio, veríamos TV ou ouviríamos música. Seja corajoso e desligue o rádio, desligue o telefone e mergulhe no silêncio. Faça isto, especialmente, na meia hora ou uma hora que precede sua meditação.
A preparação antes da oração/meditação é importante. Não podemos esperar sentar e meditar, aquietando a mente, se imediatamente antes nos envolvermos em conversação, acalorada ou de outra natureza, olharmos TV ou ouvirmos rádio. Necessitamos inserir um período de silêncio externo antes de nos sentarmos.
“Porque, o que quer que nossa alma esteve pensando antes do período da oração [meditação], isso inevitavelmente nos afluirá, ao rezarmos, como resultado da operação da memória. Portanto, devemos nos preparar antes do período de oração, para sermos a pessoa imersa na prece, que desejamos ser.” (João Cassiano)
O primeiro passo para a meditação é, portanto, o de ativamente nos recolhermos ao silêncio abandonando os ruídos externos, é o de nos afastamos de qualquer percepção sensorial: “Uma mente que não se distrai com coisas exteriores e não se dispersa através dos sentidos retorna a si mesma”.(S. Basílio)
Sentarmo-nos quietos e focando nosso mantra permitirá que nos tornemos conscientes do silêncio que habita o Centro do nosso ser. Este silêncio não é apenas uma ausência de ruído, uma mera ausência de sons, mas uma energia criativa que então nos permite sermos ‘proativos’ a partir de nossos próprios impulsos criativos, ao invés de ‘reativos’ aos estímulos externos.
O silêncio interior cria a consciência que nos falta em nossa vida diária: ”Silêncio é na verdade, estar completamente atento a quem somos e onde estamos, e sobre o que está acontecendo dentro e fora de nós mesmos… trata-se de estarmos pacificamente atentos, não de modo autoconsciente, mas simplesmente atentos, conscientes.” (Laurence Freeman)
Sentar-se quieto em silêncio, também forma a base para a estabilidade firmada em terreno sólido, espiritual e psicologicamente enraizada. Trata-se de um enraizamento que não dura apenas o tempo das suas sessões de meditação, mas que se tornará uma disposição de sua mente. Isto transformará sua vida e lhe permitirá viver e agir permanentemente a partir do profundo centro de silêncio situado no âmago do seu ser.
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL