Carta 5 – Interconectividade
Cara(o) Amiga(o)
John Main enfatizou que “o propósito de nossa comunidade é o de transmitir a tradição da meditação. O que estamos transmitindo, ou procurando transmitir, é o conhecimento de que Cristo habita em nossos corações.” Ele enfatizou esta comunhão repetidamente: “Jesus enviou seu Espírito para habitar em nós, nos constituindo em templos de santidade: o próprio Deus habitando em nós … Sabemos então que compartilhamos da natureza de Deus”.
É em profundo silêncio que nos tornamos cientes desta conexão essencial de nós mesmos, e da criação, com o Divino: “Nosso mundo não está separado do mundo espiritual … as duas naturezas são indivisíveis” (Plotino).
Esta conexão clara também é enfatizada por Fílon de Alexandria (20 aC – 40 dC), um filósofo/teólogo judeo-helenista e contemporâneo de Cristo. “Homens e mulheres em relação ao seu intelecto (‘nous’) estão conectados com a Razão Divina (‘Logos’) …. sendo um raio dessa natureza abençoada.”
Foram os filósofos gregos, a começar por Heráclito (século V aC) que primeiramente atribuíram o termo “logos” ao conceito de divino. Foi concebido como uma força orientadora e unificadora. Mais tarde, o uso da palavra ‘logos’ mudou ligeiramente e o ‘logos’ tornou-se a ponte entre o Criador e a criação.
No ‘Evangelho de João’, é Cristo quem personifica o ‘logos’, a Palavra, essa ponte. Muito cedo Platão formulou a ideia de que temos algo essencial em comum com o divino. Ele a chamou de “nous”, inteligência intuitiva pura, distinta da inteligência racional. Por meio de nosso ‘nous’, nossa inteligência intuitiva, somos capazes de nos conectar com o ‘logos’. Os primeiros cristãos consideravam o ‘nous’, como nosso órgão de oração.
No ensino de John Main, assim como no de Clemente, Cristo é o mediador essencial. Na visão de Clemente, estamos “participando” da natureza de Deus em, e por meio de, Cristo: “Cristo nos diviniza por meio de Seu ensinamento celestial… A palavra de Deus se tornou um homem, para que possamos aprender de um homem como um homem ou uma mulher pode tornar-se Deus.’ Frequentemente chamado de Teólogo Trinitário, John Main expressa isso da seguinte maneira: “É especialmente verdadeiro que nenhuma oração deve ser dirigida ao Pai sem Ele… Na oração meditativa nos preparamos para a experiência plena da presença pessoal do Pai, do Filho e do Espírito Santo – toda a vida da Santíssima Trindade vivida em nós”. Primeiro encontramos o Cristo vivo em nosso centro profundo e depois entramos na corrente do amor entre o Pai e o Filho, que é o Espírito Santo: “Ao descobrir seu próprio espírito, o homem é conduzido ao seu centro criativo, de onde sua essência está sendo emanada e renovada pelo transbordamento amoroso da vida da Trindade.”
Embora tudo esteja interconectado e não haja, portanto, nenhum abismo intransponível entre nós e o Divino, esta Realidade também está além de nós, nos transcende. Somente no silêncio nos tornamos conscientes de ambas as dimensões da Realidade Divina: “É somente através do silêncio profundo e libertador que podemos reconciliar as polaridades deste misterioso paradoxo [imanência e transcendência].” É a experiência que estabelece a base de nossa crença.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL