Nós somos a amplidão de Deus

Um trecho de Laurence Freeman OSB de “Dearest Friends” no Meditatio Newsletter de outubro de 2017.

A palavra “contemplação” oculta a palavra templum ou “templo”. Hoje, imaginamos isso como um edifício religioso. Mas o significado original não era a estrutura física, mas o puro espaço em si – antes da construção do edifício ou dos eventos sagrados ali promulgados. Isso dá um novo significado à frase de São Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3:16). Portanto, somos espaço. Não apenas recipientes de pensamentos e imaginações incríveis, caminhos neurais e biologia complexa. Somos a amplidão de Deus.

[E estamos em relacionamento.] A Irmã Eileen O’Hea tinha uma frase comovente da qual sempre me lembro: relacionamento é o solo sagrado da nossa humanidade. Esta é uma visão sobre todos os relacionamentos. Existencialmente falando, não podemos nos imaginar sem estarmos integrados em relacionamentos em todas as dimensões: histórica, social, emocional, ecológica e cosmicamente. Vivemos em uma rede inter-relacionada de seres. Relacionamento contemplativo significa ir completamente além do sentido restrito de “meus” relacionamentos – o tipo que controlamos, possuímos, sentimos ciúmes ou defendemos violentamente com o lado sombrio de Eros. Alternativamente, vemos os relacionamentos como campos de crescimento onde aprendemos a ser fiéis, não possessivos, amando com desapego e sem projeção – e crescendo em autoconhecimento. Relacionamentos não são construção do ego, mas espaços de templo.

 

Após a meditação: “Em Quem Vivemos, nos Movemos e Temos Nosso Ser”, de Denise Levertov em THE STREAM AND THE SAPPHIRE (NY: New Directions, 1997), p. 27.

Pássaros flutuando no ar corrente,

sopro sagrado? Não, não sopro de Deus,

ao que parece, mas Deus,

o ar envolvendo todo

o globo do ser.

Somos nós que respiramos, inspiramos, expiramos, inspiramos, o sagrado,

folhas agitadas, nossas asas

se erguendo, agitadas — mas apenas os santos

alçam voo. Encolhemo-nos

nas fendas dos penhascos ou deslizamos cautelosamente

nos galhos perto do ninho. O vento

marca a passagem dos santos cavalgando

aquele oceano de ar. Lentamente, seu rastro

nos alcança, nos balança.

Mas, tempestade ou calmaria,

entorpecido ou alerta,

nós inspiramos, expiramos, inspiramos,

envolvidos, envolvidos.

 

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