Primeira Semana – reflexão 2
O relógio começa a correr para o Natal… agora.
Se não tivéssemos todo o senso de tempo sagrado, a vida seria de fato uma paisagem sombria para atravessar. Ela se tornaria apenas um ciclo tedioso de trabalho, férias, compras, entretenimento, resolução de problemas, sempre fugindo de uma sensação corrosiva de incompletude ou perda. O tempo sagrado derrama cor (roxo para o Advento) sobre um mundo tão monocromático. Ele desperta um senso de expectativa, uma certeza dentro da incerteza, uma excitação de uma revelação iminente da realidade que não decepcionará ou jamais se mostrará ilusória.
O tempo sagrado do Advento não apenas promete isso: ele insiste que algo ou alguém real está se aproximando de nós através do terreno da vida. Jogamos o jogo do tempo sagrado e aprendemos diretamente o que só a brincadeira pode dar. Estamos esperando para ver o que ou quem está chegando e lidar com a dúvida incômoda (que facilmente se torna uma pílula amarga) de que nada pode vir e nada tornaria nossa espera vazia ainda mais solitária. Se nada vier, estamos sozinhos novamente. Mas, se nos tornarmos cada vez menos sobrecarregados por posses e apegos, então a espera será recíproca. Porque quem ou o que quer que esteja se movendo através do tempo em nossa direção está esperando pelo encontro, o reconhecimento e o abraço que acolhe a nova chegada. E quando quer que venha, será – literalmente – incrível.
O Advento nos oferece um tempo sagrado para refletir, várias vezes ao dia se desejarmos, sobre quão conscientemente estamos vivendo. Na vida cotidiana, mal conseguimos refletir sobre coisas mais profundas por mais do que alguns momentos arrancados da correria. A reflexão começa com o autoquestionamento. Estamos aceitando totalmente o momento em que estamos ou fantasiando sobre algo no passado ou futuro? Estamos realmente esperando? Estar verdadeiramente no presente significa esperar, ser real e saber com a sabedoria que surge na quietude que o que estamos esperando já chegou. Esse tipo de espera é esperança real – não o composto usual de devaneios e desejos – mas a certeza central de que o resultado final já aconteceu e está esperando para nascer no tempo e nas circunstâncias. Alcançar esse estado exige uma renúncia frequentemente repetida e às vezes excruciante da ilusão e de toda imaginação egoísta. A ilusão se reforma e reaparece constantemente. Portanto, precisamos de uma prática regular. E, se enfatizarmos a fidelidade ao nosso encontro diário com a realidade nas próximas semanas, será um tempo bem gasto
Estamos realmente esperando? Ou estamos fugindo da dúvida de que nada está acontecendo nessa quietude e silêncio? Esperar não é pensar sobre nosso senso de separação ou incompletude, ou ceder ao medo de que nunca seremos inteiros. Esperar significa desistir desses pensamentos e sentimentos obsessivos e sair da órbita do ego medroso. Significa ceder à emoção da realização e à beleza de derreter o coração de Cristo sendo formado em nós agora e que, com certeza, nascerá no tempo. O Advento, então, é sobre esperar pelo amor. Mas como Rumi disse, “os amantes não se encontram em algum lugar. Eles estão um no outro o tempo todo”.