Primeira Semana – reflexão 1

Para aqueles que são, não apenas admiradores, mas discípulos, Jesus é o sadguru, o professor raiz da busca humana. Fé é relacionamento. Uma companhia única na jornada da vida, resgatando-nos do isolamento enquanto nos liberta da sufocação pela multidão. Como qualquer relacionamento fiel, o discipulado evolui, assumindo muitas formas, tornando-se uma união mais profunda, levando-nos através do pior que pode nos acontecer. Como nosso centro de gravidade, Jesus nos identifica – para nós mesmos – como “discípulos”. Do latim discere, aprender. Muitas vezes vemos Jesus falando direta e intimamente com seus discípulos, diferentemente de sua voz pública. Ele anseia por compartilhar conosco tudo o que aprendeu como discípulo do Pai. Seu anseio por que entendamos traz uma revolução religiosa histórica ao discipulado e ao nosso senso de Deus: “Eu não os chamo mais de servos, mas amigos, porque compartilhei com vocês tudo o que aprendi para o Pai.” Você não pode temer um amigo. Começamos a busca do Advento ouvindo o que ele diz sobre o fim do mundo, nosso mundo privado, o mundo planetário, todo tipo de mundo. É apocalíptico. Acabei de assistir ao filme icônico sobre a guerra do Vietnã – Apocalypse Now de Coppola. Baseado no romance Heart of Darkness de Joseph Conrad, o filme chega ao clímax com a representação do remoto assentamento rio acima no Camboja, onde o renegado Coronel americano Kurtz preside insanamente um exército perturbado governado pelo medo. Ele está com uma profunda dor psíquica, mas sua mente está assustadoramente clara. O horror e as atrocidades da guerra o levaram ao limite.
O horror então se voltou para dentro contra si mesmo e para fora para o mundo. Marlon Brando diz as famosas palavras “o horror, o horror” com uma convicção arrepiante pior do que qualquer filme de terror.

Jesus avisa seus discípulos para estarem preparados para o horror. Sua linguagem deve evocar nosso medo de um apocalipse ecológico, cujos primeiros sinais vemos nos incêndios da Califórnia, nas enchentes, no desmatamento, nos oceanos poluídos por plástico, na mudança das estações e no derretimento das calotas polares. A negação é a primeira reação ao medo da morte. Mas o medo inescapável se acumulará, interrompendo todos os relacionamentos. Por trás de cada manifestação de medo está o horror da perda, a morte despertada por cada perda que sofremos. Os homens morrem de medo, diz Jesus. Porque o medo nos priva da capacidade de amar.

Aos seus discípulos, ele transmite seu comando libertador. Ele não diz que vocês, pecadores, têm muito a temer. Ele diz “não temam”. Sejam retos, dignos em sua humanidade divina. E “esperem”. Este é um ensinamento central do Advento: aprender a esperar. Esperar é uma prática aprendida, como a meditação.

A melhor resposta ao “horror” do medo é esperar, pois isso libera o recurso oculto da esperança. Esperar é autocontrole, cuidar da nossa saúde mental e equanimidade, evitar excessos, vícios e ansiedade: a espera consciente e esperançosa do discípulo, não a impaciência frenética do consumidor. Permaneça consciente, ele nos diz, e reze o tempo todo. Este é o outro tema central do Advento: estar em estado de oração contínua. Os momentos diários de meditação desenvolvem esse estado.

No início da nossa preparação para o Natal, pelo menos aprendemos que não estamos esperando o Papai Noel.

 

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