Segunda Semana – Reflexão 1
Pode não parecer muito importante saber que Lisânias era tetrarca de Abilene, quando João Batista começou a pregar o arrependimento.
Mas talvez isso nos ajude a lembrar da historicidade de nossa tradição e da necessidade universal de profetas.
O profeta selvagem do deserto jordaniano, é um arquétipo de todos aqueles que nos chamam à razão, desafiando o Estabelecimento social, expondo as negações e evasões oficiais, simplesmente dizendo as coisas como elas são, mesmo quando são condenados pelas autoridades como inimigos do povo, perseguidos ou assassinados.
João é uma figura do Advento, preparando o caminho para a aparição de Jesus no cenário público.
Advento significa literalmente um “vir ao encontro”. Ele está vindo ao nosso encontro e, ao sentirmos essa aproximação, talvez comecemos a ir ao encontro dele.
Essa é uma linguagem espacial usada para descrever um evento espiritual ilimitado pelo espaço ou tempo, mas que ainda acontece na geografia humana e no tempo real.
Qual é o coração da mensagem do profeta? Um “batismo de arrependimento para o perdão dos pecados”.
Para muitos hoje, esses termos têm tanto significado quanto a linguagem de programação de computadores.
Mas evocam necessidades humanas importantes e atemporais por significado, ritual e transformação.
O pecado é endêmico. O mundo é devastado pelo pecado, pessoal e coletivo: em famílias, nas salas de reuniões corporativas, na poluição do planeta ou na manipulação das mentes dos jovens.
Podemos associar culpa, vergonha, tristeza ou arrependimento como sinônimos de “arrependimento”.
Não são reações ruins, ao menos por um tempo, quando reconhecemos nossos pecados e o dano que causamos aos outros.
No entanto, devemos fazer mais do que apenas encolher os ombros e dizer: “vamos seguir em frente”.
O significado essencial de arrependimento (metanoia) não é apenas o que fazemos, mas uma mudança de mentalidade, literalmente “além da mente”.
Contra o horror do medo e o aprisionamento em padrões destrutivos de comportamento, nada menos do que uma mudança no sistema operacional de nossa atenção é suficiente.
Não precisamos de uma mudança de crença, mas de uma mudança de percepção; não de ideologia, mas de como e o que vemos.
Isso inicia o processo de perdão, tanto dentro de nós quanto em direção a nós mesmos.
Nunca é fácil reconhecer o quanto estávamos perdidos, enganados ou autocentrados.
Reconhecer isso exige reconciliação com o verdadeiro eu que rejeitamos.
Não podemos perdoar os outros pelo mal que nos causaram até entendermos o que significa perdoar a nós mesmos.
“Por que devo me perdoar? Ele é quem me machucou!” Talvez — e a justiça certamente deve ser feita.
Mas, para nos tornarmos inteiros, não basta sermos vítimas. Precisamos ser curados por uma mudança de perspectiva, por uma nova maneira de ver toda a situação.
O arrependimento está ligado ao “batismo”, um sinal visível do que está acontecendo dentro da consciência.
Isso pode ter um significado explicitamente religioso, como na iniciação a uma nova comunidade, que ajuda a sustentar a mudança de mentalidade.
Mas a meditação também é um batismo, uma imersão no fluxo da consciência.
E ela tem uma forma exterior, sinais visíveis: como nos sentamos, manifestamos a quietude e o silêncio exterior, nosso ritmo diário de manhã e noite.
Esses são rituais que expressam e fortalecem o processo de mudar nossa mente, expandir nossa consciência.
A meditação também expressa o nivelamento e preenchimento que Isaías descreve, mostrando-nos que somos libertos do horror para um novo estado de saúde e florescimento.