Segunda Semana -Reflexão 2
Certa vez, eu estava caminhando no mato australiano sob o brilho intenso da luz da lua.
Ao atravessar um riacho, pisando cuidadosamente de uma pedra para outra, olhei para baixo e vi uma pequena criatura estranha me observando curiosamente da água.
Fiquei chocado, mas não assustado, e recuei para tentar vê-la novamente. Mas ela havia desaparecido, e percebi (um pouco triste) que era um truque da luz e da minha imaginação.
Os deuses abandonaram a humanidade há muito tempo.
Foram banidos pela ciência e desapareceram à medida que compreendíamos melhor nosso próprio inconsciente.
Podemos fazer melhor neste ponto da nossa evolução do que tentar recuperar os antigos deuses.
Sua ausência talvez tenha deixado o mundo um lugar mais monótono.
Mas a nova dispensação, o novo pacto cujo nascimento estamos nos preparando para celebrar, expulsa os medos ligados à antiga ordem.
É um mundo mais livre, um relacionamento amadurecido com o divino.
Aqui aprendemos a esperar com alegria, mesmo na ausência, mesmo no vazio.
Esperamos com uma imaginação vazia de imagens, percebendo a presença real que se manifestará em tudo, em todos os lugares, sempre.
A humanidade está permanentemente grávida dessa presença.
Uma gravidez humana comum ensina aos futuros pais, que esperar não significa atraso ou adiamento.
É preparação e amadurecimento.
É a verdadeira paciência, que nos ensina que somente através do tempo, o tempo é conquistado.
Portanto, não há razão para impaciência enquanto uma nova forma de vida cresce em qualquer tipo de ventre.
Enquanto o mistério cresce, a vida cotidiana continua: com compras, cozinhar, lidar com pedreiros, conversar com amigos.
Mas “o tempo todo a semente cresce, como, nós não sabemos…” (Marcos 4:27).
Esperar com fidelidade ao que está crescendo é viver o momento presente.
Quando o nascimento acontece, o maravilhamento da realização é acompanhado pela ansiedade de cuidar do que agora está aqui para ser amado, mas que ainda é tão vulnerável e delicado.
A nova vida é resiliente e, ao mesmo tempo, perigosamente frágil.
Assim, o nascimento é o fim da preparação, mas o início de uma série infinita de etapas de crescimento.
Epíktesis (Filipenses 3:13) é a palavra grega para “avançar continuamente”.
Isso é o que define uma vida espiritual: não há objetivo final, exceto a transcendência de cada objetivo assim que ele é alcançado.
Pode parecer exaustivo, mas é o segredo da expansão infinita e ilimitada do amor.
Isso se reflete na prática de continuamente retornar ao mantra.
As pessoas que chegam à meditação com uma mente orientada a objetivos de curto prazo muitas vezes a chamam de “ferramenta”.
Aquelas para quem a meditação se tornou um modo de vida, um caminho para uma vida mais profunda, a veem mais como um relacionamento contínuo, uma história de amor.
O poeta Rilke escreveu que “mesmo entre as pessoas mais próximas, existem distâncias infinitas.
Os amantes não chegam sempre a precipícios um no outro?”
A vida e a temporada do Advento nos tranquilizam de que o casamento entre infinito e intimidade, é a encarnação. A plena manifestação no corpo.