Carta 22 – Estratégias de Fuga

Cara(o) Amiga(o)

Caso não entendamos bem a meditação, caso não a entendamos como uma prece, como uma disciplina espiritual, mas, em vez disso, a entendamos como uma forma de relaxamento, um meio de lidar com o estresse da vida, um meio de fuga na direção de nossa imaginação e de nossas fantasias, poderemos meditar anos a fio sem qualquer incremento de consciência, ou de transformação resultante. De fato, o ego irá bloquear qualquer progresso, e irá apenas reforçar as ilusões que temos acerca de nós mesmos, e dos outros. Em vez de ser um meio para se chegar ao autoconhecimento, torna-se um meio eficaz para reprimir nossas preocupações e pensamentos.

Adicionalmente, em vez de aproveitarmos o tempo para experienciar o silêncio e a quietude, por meio da meditação que deixa para trás nossos pensamentos, preferimos desperdiçar o tempo usando nossa mente racional para entender intelectualmente a Realidade Superior a que nos sentimos atraídos. No entanto, a primeira coisa que a filosofia e a teologia logo nos ensinam, trata da limitação básica da nossa capacidade racional. No século II, Clemente de Alexandria foi o primeiro Padre da Igreja a expressar a ideia de que Deus está além de nossa compreensão: “Deus é inefável, está além de toda palavra, além de todo conceito, além de todo pensamento… Deus não se encontra no espaço, mas além do espaço e do tempo, de nomes, e pensamentos. Deus não possui limite, nem forma, nem nome.”

Não há nenhuma resposta que seja a mais certa; as ideias frequentemente contradizem e suplantam as tentativas anteriores. Todas as teorias e teologias são tentativas de interpretação, pessoais e limitadas.

O mais perto que podemos chegar da verdadeira revelação e sabedoria, acontece quando a contemplação e a teologia andam de mãos dadas. A Igreja Primitiva estava muito bem consciente disso: “Aquele que reza é um teólogo, e um teólogo é aquele que reza” (Evágrio). O verdadeiro conhecimento da Realidade Suprema só se comunica em um nível profundo na experiência espiritual. Porém, tal como ressaltaram os místicos de todas as eras e culturas, é quase impossível transmitir em linguagem adequada, que é um meio de expressão limitado e pouco confiável, as suas próprias experiências transpessoais. “É impossível refletirmos sobre o tempo e o mistério da passagem criativa da natureza, sem que nos sintamos assoberbados pelas limitações da inteligência humana” (Alfred Whitehead).

A chave é a experiência por meio da prece, profunda e silenciosa. Thomás de Aquino é um exemplo emblemático. Depois de toda uma vida dedicada a escrever e teorizar acerca do Divino, ele teve uma experiência espiritual que fez com que ele se tornasse intensamente consciente da inutilidade de nossas tentativas de racionalização. Ele passou a considerar que todos os seus escritos foram apenas “palha”, e parou de escrever.

A busca pelo entendimento é natural e louvável. Mas, é um aspecto de nosso ego que gosta de teorizar acerca da Realidade Suprema, e fica sempre fascinado com as tentativas feitas por outras pessoas, a ponto de querer sobrepujá-las. Teorizar, filosofar, teologizar é atividade prazerosa e segura. Trata-se de uma maneira ideal para que se evite o verdadeiro trabalho a ser feito. A meditação é a estrada real para a experiência da realidade suprema.

por Kim Nataraja

 Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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