Carta 21 – Abandonando o Ego
Cara(o) Amiga(o)
A experiência de São Paulo com o Cristo ressurreto reflete a nossa experiência com Ele no silêncio profundo de nossa meditação: “Ele é uma presença real e ressurreta encontrada nas profundezas da experiência pessoal do discípulo e novo crente.” (Laurence Freeman)
Frequentemente, no entanto, quando experimentamos a chegada dessa presença silenciosa, nós nos afastamos em pânico. Ao deixar para trás os nossos pensamentos, estamos deixando para trás o ‘eu’, como Jesus exorta. Mas, abandonar nosso senso de identidade do ego é desconfortável. O ego, prestes a ser abandonado, se sente ameaçado e nos enche de um forte sentimento de solidão e isolamento. Ele nos faz sentir que estamos entrando num abismo ameaçador, no vazio. Nós, nosso ego, nos sentimos totalmente fora do controle. E, no entanto, é isso que precisa acontecer. Nós precisamos entrar na ‘Nuvem do Não Saber’, como o místico inglês do século 14 a chamou. Somente deixando para trás o ego e os pensamentos superficiais do nosso ser, poderemos experimentar quem nós verdadeiramente somos, e quem Deus verdadeiramente é. Quando, de fato, mergulharmos nessa experiência, em lugar do sentimento de solidão e isolamento que o ego nos proporcionava, nos sentiremos seguros no amor, com tudo e com todos. O vazio ameaçador se torna uma plenitude interligada e amorosa.
Precisamos aceitar que é impossível capturarmos nosso verdadeiro eu, ou Deus, através da nossa mente racional, por palavras ou imagens: “Ele está além de toda linguagem, além de qualquer conceito, de qualquer pensamento. Ele está acima do tempo e do espaço… fica em você a noção do puro ser e de que isto é o mais próximo que se pode chegar de Deus.” (Clemente de Alexandria, II Século)
Este sentimento de estarmos protegidos amorosamente no tecido do ser, só pode ser experienciado. Ao prestar atenção ao nosso mantra, com foco unidirecionado em nossa palavra, como temos visto nessas últimas cartas, nós desligamos nossos pensamentos, e ligamos um meio de conhecimento diferente. Esse meio de conhecimento é inerente aos seres humanos, como tem sido demonstrado com pesquisas feitas com crianças. “Eletro encefalogramas de cérebros de crianças de até dois anos mostram que seus cérebros funcionam permanentemente no modo alfa – que corresponde ao estado alterado de consciência em um adulto – ao invés do modo beta de uma consciência madura e comum.” (Linne Taggart ‘the Field’)
Portanto, esse abandono de nosso ego, que é cheio de pensamentos, não é a entrada no esquecimento e na não existência. Nós não perdemos nossa individualidade: “Não há dúvida que o indivíduo perde todo senso de separação com o Uno, e experimenta uma união total, mas isso não significa que o indivíduo não mais existe. Assim como todo elemento na natureza é reflexo da Realidade única, assim também cada ser humano é um centro único na consciência universal”. (Bede Griffiths)
É importante lembrar que a palavra ‘indivíduo’ “originalmente,… significa indivisível… No passado, o indivíduo era uma pessoa ou coisa vista em sua relação com o todo ao qual pertence.” (Laurence Freeman ‘Jesus O Mestre Interior’)
por Kim Nataraja
Até a próxima semana!
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL