carta 15 – Meditação e Relacionamento
A meditação é um caminho para escapar da prisão do ego e seus desejos ao levar-nos para o silêncio da oração contemplativa profunda. Laurence Freeman enfatiza em Jesus o Mestre Interior que “Jesus tinha ego.” Portanto não é que o ego em si mesmo seja pecador. É o egoísmo, a fixação no ego que leva para o esquecimento e traição do nosso verdadeiro Eu. O pecado acontece quando o ego é tomado erroneamente pelo verdadeiro Eu… Ele também demostra a capacidade humana de viver em equilíbrio saudável entre o ego e o Eu.” (p.242)
Tornar-se consciente do que nos prende permite ao nosso ego ser permeado com a energia e a consciência do nosso verdadeiro Eu espiritual. Essa é a verdadeira imitação de Cristo. Não podemos esquecer que o ego é construído por nossos pensamentos e imagens, e sobre o que os outros pensam sobre nós, os quais através dos anos tornamos nossos. Esses são apenas pensamentos, frequentemente puras ilusões, não a realidade de quem nós realmente somos. Mas enxergar através das artimanhas e escapar da sua dominação prisioneira não é algo que possamos fazer sozinhos. Somente acessando o silêncio, onde o espírito e a consciência de Cristo se movem, nós conseguiremos os insights que nos ajudarão a ver a rota de fuga. Nosso autoconhecimento aumentado depende, portanto em primeiro lugar, da prece e da condução espiritual, mas o espírito não atua somente no silêncio, mas também, usa outros seres humanos para nos alertar de nossa sombra, através de nossas reações instintivas, nossos preconceitos. Ao descobrimos nossa própria sombra, nos tornamos mais compassivos e abertos aos outros – reconhecemos suas feridas como sendo nossas.
Baseado em nossos relacionamentos com outros, na amizade e construção de comunidade, está a meditação Cristã. John Main sempre enfatizou que meditação cria comunidade. Experimentamos no silêncio profundo que não estamos sós, mas estamos profundamente conectados através da parte profunda, a parte espiritual de nossa consciência. Portanto, o autoconhecimento leva ao conhecimento dos outros e do conhecimento de Cristo em nós, através da escuta atenta e profunda que é a meditação. E o caminho de prestar atenção nós carregamos conosco durante a nossa vida do dia a dia: “Escutar é nos voltarmos em direção ao outro, deixar nosso eu para trás, e isso é amar… é essencial para a fé Cristã que ouçamos Jesus com uma atenção tão límpida que nos percamos… assim ele se torna uma “porta” que leva ao autoconhecimento” (p.42).
Mas encarar todas as partes reprimidas e perdidas em nós requer grande coragem e humildade: “Jesus expõe o alto custo através
do qual o autoconhecimento é adquirido… conhecer a si mesmo requer esquecer-se de si mesmo. Encontrar envolve perda. A semente germina apenas através da morte… cada dia demanda a morte das ilusões, hábitos, valores e crenças do antigo ego” (p.41).
Jesus realmente mostra que a meditação e a comunhão profunda da oração com o Divino é possível nessa vida: “Humanamente Jesus comunica a nós que mesmo dentro dos limites de sua humanidade ele gozava da visão de Deus. Ele sabia o que a oração realmente é. Ele conhecia a presença Divina que está no coração da oração” (P.245).
É isso o que Jesus quer dizer quando revela: “Eu vim para que todos tenham vida e tenham vida plenamente.” Toda sua vida e ensinamentos nos mostram o caminho para a integridade e a santidade. “Jesus era totalmente humano porque seu autoconhecimento vinha da consciência da união com seu Pai… Nós nos tornamos totalmente humanos e participamos no Divino através da união com a humanidade de Jesus. No Espírito, a não dualidade de Deus, Jesus pode, ao nível humano, dividir conosco tudo o que ele é” (p.244).
Kim Nataraja