Carta 39 A tradição e a prática da Meditação Cristã (1)
Cara(o) Amiga(o)
Reconectar com nosso silêncio interior é importante não apenas para adultos, mas, ainda mais em nosso mundo cheio de distrações, para crianças e jovens. Na semana passada tivemos um Seminário Meditatio sobre o ensinamento de Meditação às Crianças em Dublin, na Irlanda. A maior parte da audiência era formada por professores e diretores de escolas e muitos que estavam lá eram de Conselhos Educacionais das Dioceses. As apresentações foram recebidas com muito entusiasmo – 20 escolas já pediram para fazer parte do projeto piloto para introduzir a prática da meditação nas suas escolas.
Eu gostaria de compartilhar com vocês a palestra introdutória que Laurence Freeman OSB fez sobre a tradição da nossa prática de meditação. “Toda vez que meditamos, entramos em uma grande tradição. Este senso de tradição é essencialmente o que define a meditação Cristã – porque a meditação em si, claro, é um dos elementos mais universais e antigos da sabedoria humana. O significado e o propósito da meditação são descritos de formas diferentes, mas são encontrados em todas as grandes tradições religiosas – o núcleo contemplativo da religião propriamente dita. De um ponto de vista religioso a própria consciência humana evoluiu de, e continua a se expandir para, esta experiência do transcendente, o infinitamente distante e infinitamente próximo mistério da nossa fonte de ser, e da plenitude de ser, de Deus.
O Cardeal Newman disse que “a melhor evidência para Deus está dentro de nós”. Nos tempos modernos a existência de Deus começou a ser questionada. Em um nível filosófico e teológico, Deus é frequentemente dispensado, por meio do uso do método científico, como um produto da imaginação humana, ou uma projeção da necessidade humana. Este desafio à ideia de Deus, como convencionalmente defendido e afirmado por instituições religiosas, tem perturbado e alarmado profundamente a complacência religiosa. As pessoas religiosas tiveram que reconsiderar significados fundamentais do que sempre tomaram como verdadeiro e o que por muito tempo esteve embutido em suas estruturas sociais de poder. O advento da era secular mudou o campo de jogo no qual a religião encontra outras importantes instituições. A religião não pode mais demandar de forma automática privilégios sociais ou políticos. Ela precisa argumentar em seu benefício e ser avaliada com base em sua performance. O Dalai Lama diz que o teste de toda religião é se “ela faz com que as pessoas se tronem melhores pessoas”. Este é um bom teste, mas também é um teste difícil.
Em resposta a este mar de mudanças da modernidade, a fé cristã foi desafiada a revisitar a sua própria tradição de formas radicais – ou seja, foi forçada a retornar a suas raízes. As palavras do Cardeal Martini em seu leito de morte de que a igreja está fora de moda e precisa se reconectar com as necessidades espirituais do mundo moderno, simplesmente afirma a óbvia verdade, mas, desde o Concílio de qualquer forma, uma verdade que não foi frequentemente expressada por sua liderança. Contudo, não há nada tão novo nesta necessidade de renovação da Igreja a partir das suas raízes. Outros grandes períodos de renovação como as reformas do século 11 que endereçaram as estruturas da igreja, ou a reforma do século 20 que revisou a liturgia e a relação teológica com a modernidade, também apontaram para as raízes da igreja como forma de renovação. Se um terceiro concílio ecumênico acontecer, ele talvez venha a estudar a vida espiritual da igreja, e o seu entendimento e prática de oração. Nós já estamos em uma era que resgatou aspectos profundos e por muito tempo abandonados da nossa tradição espiritual. (Laurence Freeman OSB).
(Continua na próxima Carta)
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL