Carta 4 – Conquista ou Graça?

Cara(o) Amiga(o)

Na terceira carta nós encontramos o ‘demônio da Acídia’. Como vimos, um modo de derrotar esse ‘demônio’ é pela inflexível perseverança na meditação/oração, mas isso é dificil. Mesmo Santo Antão do Deserto, o exemplo inspirador para os Padres e Madres do Deserto do século IV, confrontou-se com o mesmo problema:

“Quando o santo Abba Antão viveu no deserto ele foi perseguido pela acídia e atacado por muitos pensamentos pecaminosos. Ele disse a Deus, ‘Senhor, eu quero ser salvo, mas esses pensamentos não me abandonam; o que devo fazer em minha aflição? Como poderei ser salvo?’ Quando, algum tempo depois, ele se levantou para ir embora, Antão viu um homem, como ele mesmo, sentado em seu trabalho, levantando-se de seu trabalho para rezar, e então sentando-se novamente para trançar uma corda, e novamente levantando-se para rezar. Era um anjo do Senhor enviado para corrigi-lo e tranquilizá-lo. Ele ouviu o anjo dizer-lhe, ‘Faça isso e você será salvo.’ Com essas palavras, Antão encheu-se de alegria e coragem. Ele assim fez, e foi salvo.”

Com o tempo isso tornou-se o princípio do modo de vida Beneditino: ‘ora et labora’, trabalho intercalado com períodos de oração regularmente estabelecidos. É fácil perceber a lição que isso traz para nós meditantes, isto é, não nos entregarmos à tentação de nos sentarmos para meditar, por longos periodos de cada vez, em prejuízo do restante de nossas vidas. É melhor, especialmente no começo, seguir a disciplina de sentar-se duas vezes ou, se sua vida permite, três vezes ao dia, em horários regulares, por um tempo limitado de 20 a 30 minutos; na verdade, intercalando seus afazeres diários com a oração.

Frequentemente quando começamos a meditar nos tormamos conscientes dos benefícios, e somos tentados a prolongar mais e mais os períodos de tempo. A tentação de empenhar-se em tornar-se um atleta espiritual está sempre presente. Mas, se fizermos isso logo daremos brecha de entrada ao ‘Demônio da Acídia’. Talvez não tenhamos a mesma percepção de paz posterior como tivéramos antes. Mas, quem está se empenhando, e quem está desapontado? Quem é esse que está te levando a fazer isso? Quem gosta de conquistar? Quem é mesmo que nos tenta a procurar a estima dos outros? A resposta é óbvia para todos nós. É aquela parte de nossa consciência que nos ajuda a sobreviver nesse mundo, aquela parte que trabalha com a realidade material, na qual nós nos encontramos: nosso ‘ego’. Mas, seguir dessa maneira aquilo que o ‘ego’ nos está levando a fazer nos fará cair como vítimas no caminho dos três principais ‘demônios’ que Evágrio, um dos mais antigos Padres do Deserto, distinguiu: Avareza, Reconhecimento, Orgulho.

Todavia, meditação significa ‘deixar o eu para trás’, deixando para trás esses desejos do ‘ego’; só agindo assim nós podemos descobrir quem nós realmente somos, ‘um filho de Deus’. Poderá certamente haver momentos, em que seremos tocados pela graça de Deus e não mais perceberemos que estamos rezando, mas esses são presentes do Espírito, e não conquistas nossas.

por Kim Nataraja

Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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