Carta 44 – Palestras Introdutórias

Cara(o) Amiga(o)

Muitas vezes, quando contamos às pessoas que meditamos na tradição cristã, elas nos olham com espanto. Meditação cristã, com certeza isso não existe? Quando dizemos a eles que ela estava presente nos primeiros séculos de nossa era, como parte integrante da devoção cristã, sua descrença evolui para o desprezo: “Se assim fosse, por que eu não ouvi sobre isso na Igreja?”, eles protestam. Podemos, então, gentilmente explicar que, por motivos religiosos, políticos e sociais trata-se de uma forma de oração que foi esquecida a partir do século VI no Ocidente latino, à medida que entramos na “Idade das Trevas”, quando o Império Romano foi cercado e, finalmente, vencido por tribos germânicas migratórias. No Cristianismo oriental, ao contrário, essa forma de oração sobreviveu até os dias atuais na forma da “Oração de Jesus”.

Mas, onde está a evidência de que Jesus meditava ou recomendava esta forma de oração? De fato, não há um lugar específico nas Escrituras onde se afirme explicitamente que Jesus meditava, repetindo uma frase. Mas, a palavra ‘Abba’, frequentemente, estava em seus lábios e, sabemos também, que ele recomendava orar em poucas palavras: “Nas tuas orações não sejas como os gentios, que usam de vãs repetições porque julgam que, por muito falarem, serão atendidos.”  E, logo em seguida a esse conselho, ensina aos seus discípulos, como um exemplo de oração correta, a rezar o ” Pai Nosso “(Mt 6, 7-13).  Quando ouvida em aramaico, a língua que Jesus falava, esta oração é muito poética e rítmica e, provavelmente, ela seria repetitiva.  Isto, aliás, está corroborado pelo fato de que ouvimos Jesus recomendar o caminho da oração do coletor de impostos, que constantemente repete a frase: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador que sou.” (Lc 18, 10-14)

Em versos anteriores, Mateus coloca essa forma de oração em uma atmosfera de silêncio e solidão. Aqui sabemos que Jesus, além de rezar com seus discípulos na comunidade, também se dirigiu … “a uma montanha para rezar, e passou aí toda a noite orando a Deus.” (Lc 6, 12). Nós o ouvimos recomendar-nos: “Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.” ( Mt 6, 6) O significado dessa passagem é muito bem explicado por João Cassiano, o monge do século IV: 

“Oramos em nosso quarto, quando afastamos inteiramente nossos corações do tumulto dos pensamentos e das preocupações revelando nossas preces ao Senhor em segredo, como se fora de maneira íntima.  Oramos com a porta fechada sempre que, sem descerrar os lábios, e em silêncio, oramos para aquele que procura corações, e não vozes.”

Essa ênfase sobre o silêncio e a solidão, Jesus extraiu da tradição judaica, à qual ele fora iniciado. Encontramos nos Salmos: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus.” (Sl 46, 10) e no Antigo Testamento: “mas, Iahweh não estava no furacão…  não estava no terremoto… não estava no fogo; e depois do fogo, o ruído de uma leve brisa (às vezes traduzido como ‘som de puro silêncio’)” (I Reis 19, 11-12). Portanto, em poucas palavras, e definitivamente, a oração silente interior faz parte da tradição cristã!

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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