Carta 42 – Meditação como caminho de autoconhecimento

Cara(o) Amiga(o)

Segundo Evágrio a maneira de identificar os nossos ‘demônios’ pessoais é dual: através da oração / meditação, e pelo esforço para atingir o auto-conhecimento e a consciência. A ‘observação dos pensamentos’ representa aqui um papel importante: “Se houver qualquer monge [ou ser humano] que deseje medir as forças de alguns dos demônios mais ferozes…, então, que mantenha um olhar cuidadoso sobre os seu pensamentos… que observe bem a complexidade de seus pensamentos… os demônios que os causam. Então, que ele peça a Cristo a explicação dos dados que ele observou”. 

“Os pensamentos não são maus em si mesmos, êles têm que ser distinguidos dos ‘demônios’ ou “pensamentos perversos”, como Evágrio também os chamava. Somente quando um pensamento ou desejo se conjuga fortemente com um padrão de pensamento negativo, pode o ‘demônio’ exercer sua influência. Isso faz com que a energia emocional normal se torne ‘demoníaca’, e somos levados a ações demoníacas desintegradoras.

Precisamos dar a esses pensamentos significativos, e às suas associações, a atenção que eles merecem. Eles são os únicos indicadores que temos do que realmente nos motiva, para o bem ou para o mal. Mas, sua última frase é a mais importante. Não podemos chegar à compreensão e à cura, por conta própria. Nem mesmo explicações racionais serão suficientes. É apenas a orientação do Cristo ressuscitado dentro de nós que nos ajuda a chegar à consciência e ao discernimento. 

Neste contexto existem duas formas de Oração: profundo silêncio e oração discursiva. O silêncio da oração pura nos permite ouvir a voz mansa do Cristo ressuscitado, o curador, no centro do nosso ser. Precisamos refletir o discernimento, o dom da oração pura, em outras ocasiões, através da oração discursiva, que é descrita por Evágrio como “a observação dos pensamentos”. Começamos com os pensamentos recorrentes que passam por nossa mente e nos tornamos conscientes das ligações e associações entre eles. Então, precisamos recuar e observar o sentimento que está por trás do pensamento. Sentimentos são pensamentos sentidos no nosso corpo, antes de lhes darmos forma. O problema é que somos condicionados a ignorar nossos sentimentos por causa de sua natureza aparentemente irracional. Eles são, no entanto, a primeira indicação que temos de que há algo que se move em nosso inconsciente profundo. Precisamos, portanto, adquirir consciência e reconhecer os nossos sentimentos, ao invés de reprimi-los. Antes de nos tornarmos conscientes de um sentimento, muitas vezes, de acordo com Evágrio, temos sensações de algum tipo: um som, o modo como a luz incide e, especialmente, um sabor ou cheiro. Tão logo nos tornamos conscientes de um sentimento, devemos nos perguntar se existe aguma forte emoção em sua origem, algum “demônio” de nosso inconsciente pessoal, quais condicionamentos armazenados em nossas memórias estão sendo ativados? Será que esta situação atual desencadeou sentimentos do passado? Eu me sinto não amado? Inseguro? Desvalorizado? Impotente? Reconhecer isso nos ajuda a obter discernimento sobre nossas motivações e nos ajuda a adaptar  nossas ações de forma adequada às necessidades da situação atual, ao invés de reforçá-las pelas emoções das experiências passadas. 

Você pode perguntar, o que isto tem a ver com a meditação ? É de extrema importância: “Quando digo meditação, não quero dizer apenas o trabalho de oração pura, mas todo o campo vital de auto-conhecimento que ela dirige.” (em “Jesus, o Mestre Interior”, de Laurence Freeman

Esses “demônios” bloqueiam o caminho para o verdadeiro auto-conhecimento que leva à transformação do nosso ser, à plenitude, a uma maneira diferente de ver a realidade, que abre a porta para o conhecimento da Realidade Divina. 

por Kim Nataraja

 Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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