Carta 34 – Meditação – uma maneira diferente de aprender

Cara(o) Amiga(o)

 “Aprender a meditar e aprender aquilo que a meditação tem a nos ensinar, são dois tipos diferentes de aprendizado que, ambos, partem de algo com que estamos familiarizados. Não estamos aprendendo nada de ‘novo’, da maneira que comumente entendemos a novidade. Estamos reaprendendo algo já conhecido na infância, e que se perdeu prematuramente, antes que pudéssemos integrá-lo de maneira madura. Desaprendemos muito, condicionados pela nossa educação e formação, que são inadequados para uma vida plenamente desenvolvida. O que estamos aprendendo por meio desse processo de reaprender (e desaprender) é algo simples e direto demais para ser entendido, a não ser que o façamos na (e através da) experiência. No início, somos complexos e autoconscientes demais para a experiência. Alguns ensinamentos, não apenas através do exemplo (o melhor ensinamento), mas também por meio de palavras e ideias, são necessários para nos manter no caminho que nos prepara para a própria ‘experiência de maestria’. Deixe-me tentar resumir esse que é o mais simples dos ensinamentos, o elemento essencial da meditação. Deixe-me começar colocando-nos no contexto da essência do ensinamento cristão das Escrituras. 

‘Por esta razão dobro os joelhos diante do Pai – de quem toma o nome toda família no céu e na terra – para pedir-lhe que conceda, segundo a riqueza da sua glória, que vós sejais fortalecidos em poder pelo seu espírito no homem interior, que Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no amor. Assim tereis condições para compreender, com todos os santos, qual é  a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e  conhecer o amor de Cristo, que excede todo o conhecimento para que sejais plenificados com toda a plenitude de Deus’ (Efésios 3, 14-19).

São Paulo aqui reflete sobre o potencial que todos nós temos para uma vida mais rica e mais completa, para uma vida enraizada no mistério de Deus.

Esta é uma descrição maravilhosamente abrangente do destino de cada um de nós, como cristãos, e como seres humanos. Nosso destino, e nosso chamado, é o de chegarmos à plenitude do ser, que é a plenitude do próprio Deus. Em outras palavras, cada um de nós está convocado para um desenvolvimento ilimitado e infinito, através do caminho da fé e do amor, à medida que deixamos a pequenez de nosso ego para trás e, penetramos no mistério cada vez maior do próprio ser de Deus.

A única qualidade que precisamos para iniciar é a coragem. Começar a meditar é como perfurar em busca de petróleo no deserto. A superfície é tão seca e empoeirada que você precisa ter fé nas conclusões dos geólogos, que lhe dizem que no fundo dessa terra seca, há uma grande fonte de energia. Quando começamos a meditar pela primeira vez não podemos deixar de esperar que algo aconteça, que agora teremos alguma visão, agora chegaremos a algum conhecimento mais profundo. Mas, nada acontece. Perseverando, além deste estágio, que é um dos muitos obstáculos que a nossa fé irá enfrentar, somos levados a perceber que no coração da fé quem trabalha silenciosamente é o amor. Quando percebermos isso, que não é somente pela fé que se prossegue, mas sim pela fé e pelo amor, então, teremos realmente iniciado. Através dessa fé, Cristo habita dentro de nós em amor. Sua presença é o constante companheirismo do mestre. Nossa coragem inicial nos levou a encontrar um mestre. 

Todavia, é realmente porque ‘nada acontece’, que você pode estar seguro de estar no caminho certo, o caminho da simplicidade, da pobreza, de uma entrega libertadora. Jesus nos disse que seu Espírito deve ser encontrado em nossos corações. Meditar é descobrir essa verdade como uma realidade presente bem no fundo de nós mesmos, no centro de nossas vidas. O Espírito que somos convidados a descobrir, em nosso coração, é a fonte de energia que enriquece todos os aspectos e todas as partes de nossa vida.  O Espírito é o eterno Espírito da vida, e o eterno Espírito do amor. O chamado para os cristãos não é o de estar parcialmente vivo (que é o mesmo que estar parcialmente morto), mas o de estar plenamente vivo, vivo com o dinamismo do Espírito, com o poder e a energia dos quais nos fala São Paulo, e que continuamente flui em nossos corações. 

 John Main – ‘The Heart of Creation’

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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