Carta 43 – Diálogo Inter-Religioso

Cara(o) Amiga(o)

O elemento inter-religioso, que diz respeito à Verdade em todas as religiões, que muito faz parte do ethos da Comunidade Mundial para Meditação Cristã, foi também um elemento importante da tradição Cristã desde o princípio.

No tempo de Jesus, Alexandria, no Egito, já era um importante centro cultural. Como menciono na introdução do terceiro capítulo sobre Clemente de Alexandria em “ Journey to the Heart”: “Alexandria havia sido fundada por Alexandre, o Grande, alguns séculos antes, uma cidade vibrante e cosmopolita com uma Academia Pagã para rivalizar com Atenas, uma maravilhosa biblioteca contendo toda a sabedoria da humanidade até aquele momento e a primeira importante Escola Catequética. ” Segundo o Bispo Kallistos Ware, “Alexandria era, naquela época, o mais importante centro intelectual do Império Romano, mais vivo, filosófica e espiritualmente, do que a própria cidade de Roma.”

Um dos fatores que contribuíram para isso foi que Alexandria era o ponto final da Rota da Seda que vinha da China. Ao longo dessa rota viajavam não só mercadores, mas também filósofos gregos e judeus, monges budistas e praticantes de outras tradições religiosas. Inevitavelmente eles devem ter tomado conhecimento das práticas religiosas uns dos outros nessas viagens, visto os efeitos dessas crenças no comportamento e caráter dos indivíduos e, sem dúvida, devem ter usado o tempo em volta da fogueira ao entardecer para conversas, para conhecerem-se e entenderem-se entre si. Estas discussões estavam também acontecendo nos mercados e centros acadêmicos e filosóficos de Alexandria, um dos quais era a “Escola Catequética”.

A Igreja Cristã estava prosperando em Alexandria. Não tinha havido realmente nenhuma perseguição nos primeiros séculos, uma vez que Alexandria era importante demais para Roma do ponto de vista comercial. Ao invés de igrejas caseiras dispersas, já havia locais construídos com o propósito de culto. Nesse ambiente cultural o estabelecimento de uma autêntica Escola Catequética parecia apropriado. Mas, o ensino dos Catecúmenos – aqueles que queriam ser batizado na fé Cristã – não se restringia apenas à fé Cristã, mas era realizado no contexto de uma educação geral Grega, em filosofia e ciência, prevalentes naquela época, com estudantes de todas as principais culturas se misturando e em diálogo. O Cristianismo tinha que ser apresentado de uma forma que o mundo educado na língua grega de Alexandria considerasse aceitável. Como havia mais judeus morando em Alexandria do que na própria Jerusalém, Fílon, um filósofo Judeu e contemporâneo de Jesus, já havia preparado o terreno estabelecendo o diálogo entre a filosofia grega e judaica.

O resultado desse diálogo entre a filosofia judaica, grega e cristã é muito óbvio pelos ensinamentos de ambos os antigos Padres da Igreja, Clemente de Alexandria na Escola Catequética e Orígenes – seu sucessor ali. O que também é importante da nossa perspectiva é que os seus ensinamentos tinham em sua raiz a experiência mística pessoal. Isto seria resumido mais tarde por Evrágio, o Padre do Deserto do século IV, dessa forma: “ Aquele que ora é um teólogo e, teólogo é aquele que ora”.

É importante lembrar que diálogo não é um convite à imitação. T. S. Elliot, que com frequência usou citações de outros místicos em seu poema “The Four Quartets” diz em suas “Reflexões sobre a poesia contemporânea”: “ Nós não imitamos, nós somos transformados; e nosso trabalho é o trabalho do homem transformado; nós não emprestamos, nós fomos vivificados, e nos tornamos os portadores de uma tradição.”

Kim Nataraja

(Trecho do livro ‘Journey to the Heart – Christian Contemplation through the centuries – an Illustrated Guide’)

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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