A natureza do Divino

Por Kim Nataraj

Os primeiros pais cristãos enfatizaram que não poderíamos conhecer a Deus com a nossa mente racional. Nenhuma imagem, conceito ou nome poderia fazer justiça. Na verdade, eles consideravam uma blasfêmia atribuir um nome a Deus, porque isso limitaria o ilimitado, ou nomearia o inominável. Podemos, no entanto, vivenciar a Presença Divina, pois temos algo em comum, como vimos explicado na semana passada. Podemos conhecer Deus intuitivamente, através do nosso ‘nous’, ponto mais alto da nossa alma, que é também o nosso órgão de oração. Podemos ver claramente o quanto a teologia de John Main está alinhada com esse pensamento cristão primitivo, e compreender ainda mais claramente sua ênfase na importância de deixar pensamentos e imagens para trás para entrar no silêncio de Deus. É interessante ver como Clemente de Alexandria lidou com a impossibilidade de conhecer Deus através de imagens e pensamentos. O Bispo Kallistos Ware explica em seu capítulo ‘Jornada ao Coração’: 

“Na sua teologia mística, a ideia dominante de Clemente, a sua cena mestra, é o mistério divino. Ele é um teólogo apofático, o primeiro grande pensador cristão a usar teologia negativa… Apofático é basicamente uma palavra grandiosa para negativo e catafático é uma palavra grandiosa para afirmativo. E para ilustrar os significados de catafático e apofático, aqui estão exemplos de editais. 

Aqui está um sinal catafático: você vê uma passagem de nível sobre uma linha ferroviária, um poste com uma caixa anexada e evidentemente uma campainha elétrica na caixa, e um aviso que diz:

‘Perigo! Pare, olhe e ouça. Quando a campainha tocar, não ultrapasse a linha. Se a campainha não estiver tocando, pare, olhe e ouça, caso a campainha não esteja funcionando.’

Assim, numa abordagem catafática, todas as possibilidades são expressas e permitidas.

Aqui está um aviso apofático da Austrália:

‘Esta estrada não leva a Townsville nem a Cairns.’

Esse é exatamente o método usado pelos teólogos místicos apofáticos. Eles não dizem o que Deus é, porque ele é um mistério além da nossa compreensão. Eles dizem apenas o que ele não é.”

Se você seguir esta abordagem logicamente, e desviar todas as qualidades possíveis da ideia de Deus, poderemos ter:  ‘Você fica com a noção de ser puro e isso é o mais próximo que você pode chegar de Deus… Deus não está no espaço, mas acima, tanto lugar como tempo e nome e pensamento. Deus não tem limites, não tem forma, não tem nome.'(Clemente)

22 março de 2024                                                                                                            

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