Diálogo Inter-religioso

Por Kim Nataraj

O elemento inter-religioso, que respeita a Verdade em todas as religiões, que faz parte do ethos da Comunidade Mundial de Meditação Cristã, também tem sido um elemento importante na tradição cristã desde o início.

O elemento inter-religioso, que respeita a Verdade em todas as religiões, que faz parte do ethos da Comunidade Mundial de Meditação Cristã, também tem sido um elemento importante na tradição cristã desde o início.

No tempo de Jesus, Alexandria, no Egito, já era um importante centro cultural. Como mencionei na introdução ao terceiro capítulo sobre Clemente de Alexandria em ‘Viagem ao Coração’: “Foi fundada por Alexandre, o Grande, alguns séculos antes, uma cidade vibrante e cosmopolita com uma Academia Pagã que rivalizava com Atenas, uma cidade maravilhosa, biblioteca contendo toda a sabedoria da humanidade até aquele estágio, e a primeira importante Escola Catequética.” Segundo o bispo Kallistos Ware, “Alexandria era, naquela época, o principal centro intelectual do Império Romano, mais vivo filosoficamente e espiritualmente do que a própria cidade de Roma”.  

Um dos fatores que contribuíram foi que Alexandria era o ponto final da Rota da Seda que ia da China a Alexandria. Ao longo desta estrada viajaram não apenas comerciantes, mas também filósofos gregos e judeus, monges budistas e praticantes de outras tradições religiosas. Inevitavelmente, eles teriam estado cientes das práticas religiosas uns dos outros durante a viagem, visto os efeitos dessas crenças sobre o comportamento e o caráter dos indivíduos e, sem dúvida, teriam usado o tempo da noite ao redor das fogueiras para conversar, para conhecer e compreender cada um, o outro. Estas discussões aconteciam também nos mercados e nos centros académicos e filosóficos de Alexandria, um dos quais era a ‘Escola Catequética’.

A Igreja Cristã estava prosperando em Alexandria. Na verdade, não houve quaisquer perseguições nos primeiros séculos, já que Alexandria era importante demais para Roma do ponto de vista comercial. Em vez de igrejas domésticas dispersas, já havia locais de culto construídos propositadamente. Neste ambiente culto, parecia apropriado o estabelecimento de uma Escola Catequética adequada. Mas o ensino dos catecúmenos – aqueles que queriam ser batizados na fé cristã – não se restringia estritamente à fé cristã, mas era realizado num contexto de uma educação geral, grega em filosofia e ciência, prevalecente naquela época. Com estudantes de todos os países, principais culturas misturadas  em diálogo. O Cristianismo tinha que ser apresentado de uma forma que o mundo educado grego em Alexandria considerasse aceitável. Como havia mais judeus vivendo em Alexandria do que na própria Jerusalém, Fílon, filósofo judeu e contemporâneo de Jesus, já havia preparado o terreno ao dialogar entre a filosofia grega e a judaica.

O resultado deste diálogo entre a filosofia judaica, grega e cristã é bastante óbvio, a partir dos ensinamentos de ambos os primeiros Padres da Igreja, Clemente de Alexandria na Escola Catequética e Orígenes, (o seu sucessor ali). O que também é importante da nossa perspectiva, é que o seu ensino teve em suas raízes experiências místicas pessoais. Isto seria mais tarde resumido por Evágrio, o Padre do Deserto do século IV, desta forma: ‘Aquele que reza é um teólogo e um teólogo é aquele que reza.’

É importante lembrar que o diálogo não é um convite à imitação. T.S.Eliot, que frequentemente usou citações de outros místicos em seu poema ‘Os Quatro Quartetos’ diz em suas ‘Reflexões sobre a poesia contemporânea’,

“Não imitamos, somos mudados; e nosso trabalho é o trabalho do homem mudado; não pedimos emprestado, fomos vivificados e nos tornamos portadores de uma tradição”.

  17 fevereiro de 2024                                                                                                                                                               

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