carta 16 – Ouvindo seu nome verdadeiro

Temos entendido melhor o jogo do ego, da sombra e do verdadeiro eu, e como são importantes os inter-relacionamentos para nos tornarmos conscientes do nosso verdadeiro Eu e, nos desenvolvermos na pessoa que Deus pretende que nós sejamos.

Há uma história maravilhosa sobre ouvir o nome de seu verdadeiro eu, na tradição Rabínica: Rabi Yehuda Loew ben Bezalel foi o maior Rabi de seu tempo na Europa, o homem que, em sua casa em Praga, criou o Golem, a forma primitiva de um homem, ao qual deu vida colocando sob sua língua um pedaço de papel com o nome indizível de Deus. Certa noite o Rabi Yehuda teve um sonho: sonhou que tinha morrido e que foi levado diante do trono. E o Anjo que estava diante do trono disse a ele ‘Quem é você?’ ‘Eu sou o famoso Rabi Yehuda de Praga, o criador do Golem,’ ele respondeu.

‘Diga-me, meu senhor, se meu nome está escrito no livro dos nomes daqueles que terão um lugar no Reino.’ ‘Espere aqui’, disse o Anjo, ‘Eu lerei os nomes de todos aqueles que morreram hoje que estão escritos no livro.’ E ele leu os nomes, milhares deles eram nomes estranhos aos ouvidos do Rabi Yehuda; e a medida que o Anjo lia, o rabi viu os espíritos desses cujos nomes haviam sido chamados voarem para a glória que sentava acima do Trono.

Finalmente ele acabou de ler, e o nome do Rabi Yehuda não havia sido chamado, e ele chorou amargamente e gritou contra o Anjo. E o Anjo disse, ‘eu chamei o seu nome.’ Rabi Yehuda disse, ‘eu não ouvi.’ E o Anjo disse, ‘No livro estão escritos os nomes de todos os homens e mulheres que já viveram na terra, pois cada alma é uma herdeira do Reino. Mas muitos que chegam aqui nunca ouviram seus nomes verdadeiros pelos lábios de homem, mulher ou anjo. Eles viveram acreditando que sabiam seus nomes; e então quando eles são chamados para seu lugar no Reino, eles não ouvem seus nomes como sendo deles. Eles não reconhecem que é para eles que os portões do Reino são abertos. Então eles têm que esperar aqui até que ouçam seus nomes e o reconheçam. Talvez durante a vida deles um homem ou mulher os tenham chamado uma vez pelo seu nome verdadeiro: assim, aqui, eles deverão permanecer até que fiquem tão silentes que ouçam o próprio Rei do Universo os chamarem.’

Nesse momento, Rabi Yehuda acordou e levantando-se de sua cama em lágrimas, cobriu sua cabeça e deitou prostrado no chão, e rezou, ‘Mestre do Universo! Concede-me que uma vez antes que eu morra eu possa ouvir meu próprio e verdadeiro nome nos lábios de meus irmãos e irmãs.’ É nossa preocupação o que pensamos que somos e o que alcançamos, que permaneçamos no reino do ego e nunca ouçamos nosso nome.

No Evangelho de João há um exemplo semelhante na experiência de Maria Madalena na manhã do Domingo de Páscoa, quando ela não reconhece Jesus em Sua forma verdadeira. Nesse caso não são suas conquistas ou orgulho que atrapalharam, mas suas emoções que nublaram sua visão. Laurence Freeman explica: “Maria sofreu a agonia humana do luto e da desolação da ausência irreversível.” (p. 61)

Por isso ela não reconhece Jesus quando ela O vê ali em pé e O toma pelo jardineiro. Somente quando Ele a chama pelo nome ‘Maria’ é que ela se volta para ele, que é o momento da ‘metanóia’ – ver além da realidade ordinária para a realidade verdadeira. Somente então ela O reconhece na Sua essência espiritual – ‘Mestre’ – Pai amado. Laurence Freeman explica: “Ela é levada ao autoconhecimento pela simples razão de ser conhecida pelo Outro”. Ele a conhecia e a chamava pelo nome.

O verdadeiro autoconhecimento é gerado pelo relacionamento. Nesse relacionamento nos sentimos conhecidos e amados… o centro de nossa consciência se desprende de suas amarras egoístas usuais e se coloca no outro.

Maria vivenciou seu caminho do luto total para a autorrealização.

Kim Nataraja

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