carta 14 – A disciplina da meditação
Nós temos discutido quão essencial é a meditação para o crescimento espiritual pessoal e, a nossa transformação na pessoa que Deus pretende que sejamos. Não há duvida de que a repetição fiel da palavra oração, o mantra, leva ao silêncio e à quietude da oração ‘pura’, como os Padres e Madres do Deserto a chamaram – a oração do coração e não da mente. A pergunta, entretanto, que é sempre feita é “Onde está esse ensinamento nas Escrituras?”
Laurence Freeman em Jesus o Mestre Interior (p 201 – 204) leva-nos através dos ensinamentos da Oração de Jesus, como está escrito no Evangelho de Mateus, Capítulo 6. Quando os discípulos pedem a Jesus para ensiná-los como rezar ele começa com o que
agora conhecemos como o Pai Nosso. Quando você escuta o Pai Nosso em Aramaico, a língua que Jesus falava, ela nos chega lindamente através de uma “coleção de pequenas frases rítmicas”, fáceis de memorizar e entoar ou cantar. Não é difícil imaginar como a repetição atenta e fiel dessas frases nos levariam “à quietude e introspecção”.
Quando ouvimos Jesus dizer: “tenham cuidado em não transformar numa performance sua religião perante os homens”, ele enfatiza que não é o ego que deveria ser a motivação na oração. O ego procura a estima nos olhos dos outros. O verdadeiro caminho da oração emerge para fora de nosso Ser despretensioso, sincero e verdadeiro, nossa centelha Divina, e nos conduz a uma profunda e fiel consciência da nossa ligação com Deus. Para que isso aconteça naturalmente Jesus recomenda silêncio e solidão: “Quando rezares, vá sozinho para um quarto, feche a porta e reze para o Pai que está lá nesse lugar secreto; e seu Pai que vê o que é secreto te recompensará.”
Como sempre, se tomamos essas palavras literalmente ao invés de metaforicamente, elas não revelariam o seu verdadeiro significado. O obstáculo é que nós sabemos que ter seu próprio quarto nesses tempos antigos era raro. João Cassiano explica belamente o significado real por trás desse ditado: “Rezamos em nosso quarto quando retiramos completamente nossos corações do ruído de cada pensamento e preocupação e revelamos nossas orações ao Senhor em segredo, por assim dizer, intimamente.
Rezamos com a porta fechada quando, com os lábios cerrados e em silêncio total, rezamos ao Senhor, não com vozes, mas com corações.” A ênfase é, portanto, na interioridade, na oração do coração, que é facilitada por usarmos “poucas palavras”: não fique balbuciando… “Seu Pai sabe do que necessitas antes que você lhe peça”.
Deixar os pensamentos irem, frequentemente preocupações, que formam uma grande barreira no voltar-se para o nosso centro, é o próximo aspecto dos pontos principais que Jesus aponta: “Eu peço-te que abandone os pensamentos ansiosos sobre comida e bebida, sobre te manter vivo e, sobre roupas para cobrir teu corpo”.
Como Laurence Freeman ressalta isso “não significa um abandono total às necessidades básicas da vida. Precisamos comer e beber. Conhecer nosso próprio Ser e a pretensa felicidade com necessidades que leva à extravagâncias, além das básicas, é que é o problema. Esse deixar ir, entretanto, nos ajuda a entrar no aqui e agora: “Assim não fique ansioso sobre o amanhã; o amanhã basta a si mesmo.” É somente estando no ‘aqui’ e ‘agora’ que estaremos conscientes da Presença do Divino em nós.
Por fim, sublinhando tudo o que ele disse, está a importância de prestar “atenção pura à presença de Deus no coração de toda a realidade: coloque sua mente no Reino de Deus e na sua justiça antes de tudo o mais, e todo o resto vos será acrescentado”. No Sermão da Montanha nós encontramos todo o ensinamento necessário que os Padres e Madres do Deserto tinham adotado no coração e, que chegaram até nós através das descobertas de John Main dessas práticas espirituais, encontradas nos escritos de São João Cassiano.
Kim Nataraja