Carta 23 – A Jornada da Meditação (2)

Cara(o) Amiga(o)

Na semana passada, conversamos sobre o que pode nos acontecer em nossa jornada de meditação. Começamos com entusiasmo, nosso comprometimento com a prática diária cresce, mas, com o tempo, inevitavelmente, nos deparamos com o ‘demônio da acídia’. Começamos a nos sentir entendiados e inquietos; sentimos como se entrássemos no deserto. Thomas Merton, falando sobre esta experiência do ‘deserto’ disse, “Somente quando somos capazes de ‘abandonar’ tudo dentro de nós, todo o desejo de ver, de conhecer, de provar e experimentar a consolação de Deus, somente então, somos capazes de experimentar verdadeiramente Sua presença.”

Portanto, isso exige um ‘desapego’, e, dessa forma, essa ‘experiência do deserto’ é purificadora. É um desafio, superar nossa atitude autocentrada e meditar sem recompensa, sem o conhecimento de para onde o Espírito nos guia, de meditar mesmo quando atacados por estas profundas distrações. Se perseveramos, e fielmente nos sentamos para a nossa prática, apesar dos pesares, em algum momento venceremos toda a resistência e seremos trazidos ao verdadeiro autoconhecimento, purificados e fortalecidos. Assim, o deserto é também para nós o caminho para a Terra Prometida pois, nas palavras de Evágrio, o Padre do Deserto:

“Nenhum outro demônio segue de perto o demônio da acídia, mas, dessa luta surge apenas um estado de paz profunda e inexprimível alegria”.

Esta ‘paz profunda e inexprimível alegria’ era chamada pelos Padres e Madres do Deserto de ‘apatéia’, uma profunda e imperturbável calma, uma alma realmente curada. Eles sabiam que ‘apatéia’ ou ‘pureza de coração’ era o pré-requisito para entrar no ‘Reino de Deus’, estar na Presença de Deus.

“O que os Padres buscavam acima de tudo era o seu verdadeiro eu em Cristo. E para atingir isso, eles tinham que rejeitar por completo o eu falso, formal, fabricado sob coação social no ‘mundo’.” (Thomas Merton)

Nosso ‘verdadeiro eu em Cristo’, portanto, brilha quando o fluxo de pensamentos e sentimentos foi aquietado, quando as máscaras do ego e falsas imagens do eu foram descartadas e as emoções purificadas. Então, nós nos reconhecemos como ‘filhos de Deus’, feitos à ‘imagem e semelhança’ de Deus. Essa calma, essa bem aventurança, esta paz e alegria é, ao mesmo tempo, perfeita consciência, super despertar. E, nesse momento, estamos ‘plenamente vivos’.

Daí flui o estágio final, ‘ágape’, a mais elevada experiência de todas, uma sensação de unidade e consciência do amor universal e incondicional de Deus. Transcendemos o conhecível mundo das formas e todos os conceitos da mente. Compreendemos que “Deus não tem quantidade ou qualquer forma externa” e “vemos, maravilhados, a luz do nosso próprio espírito, percebendo esta luz como algo além do nosso espírito e, ao mesmo tempo, como a fonte dele” (John Main).  Sabemos que nosso espírito é uno com o Espírito. Entramos no fluxo de amor entre o Criador e a criação. Chegamos em casa.

“O ser humano precisa primeiro ser restabelecido nele mesmo para que, fazendo dele mesmo um degrau, possa se elevar a partir daí para Deus” (Sto Agostinho)

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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