carta 27 – Relacionamento e interconexão

Laurence Freeman enfatiza em “Jesus o Mestre Interior” que “nas petições do Pai Nosso vemos como toda oração toca os relacionamentos humanos não menos do que o relacionamento-raiz com Deus.” A oração mostra a única teia de consciência que compreende o conhecimento de Deus, o autoconhecimento e os relacionamentos com os outros”. (pág. 203)

Esse sentido de “teia única de consciência”, essa interconectividade total se perdeu no século XVII com a ascensão da visão científica de Descartes e Newton. Descartes foi um matemático que viu as regras matemáticas governando toda a criação. Estas formaram a estrutura de tudo, não apenas do universo, mas também de nossos corpos. Descartes tinha uma intuição clara de si mesmo como um ser pensante e de Deus como uma entidade perfeita, influenciando e iluminando sua mente. Portanto, seus “insights” e as leis matemáticas foram divinamente inspirados.

O problema para a humanidade nessa visão era que ele via a natureza como dividida no reino da mente – ‘res cognitans’ – e no reino da matéria – ‘res extensa’. Ele via a mente humana como totalmente separada: separada de nossos corpos, do resto da humanidade e da criação, embora não de Deus. A única coisa de que podíamos ter certeza era nossa capacidade de pensar – nossa única prova real de existência: “cogito ergo sum” (penso, logo existo), ligando firmemente a existência ao pensamento. Na verdade, somos, na sua opinião, observadores isolados do resto do universo visível, levando-nos a sentir uma sensação de total separação e falta de sentido.

O pensamento racional reinou supremo e ao longo dos séculos seguintes, até o nosso tempo, o mero conceito de faculdades espirituais e intuitivas e até mesmo a existência de Deus foi denegrido como cada vez mais não científico e ridicularizado como um remanescente primitivo de nosso passado. Em geral, considerava-se que a ciência poderia lançar luz útil sobre as tradições religiosas, mas a religião em si não tinha nada a oferecer para elucidar a realidade. Como resultado, o pensamento racional e a inteligência intuitiva foram dispostos em lados diferentes do espectro, causando uma separação entre ciência e espiritualidade com resultados prejudiciais para nossa cultura e sociedade.

Mas isso mudou no começo do Século XX com a chegada à cena de Einstein e sua “Teoria Geral da Relatividade” e da “Teoria Quântica“ de Niels Bohr e Werner Heisenberg e, outros que viam o Universo numa luz bem diferente. Einsten não só reafirmou a importância da intuição: “A mente intuitiva é um dom sagrado e a mente racional uma serva leal. Nós criamos uma sociedade que honra a serva e se esquece do dom”, mas ele e seus amigos cientistas também mudaram totalmente a nossa visão do Cosmos.

Sua visão da realidade é semelhante à encontrada nas Tradições e Religiões de nosso mundo: tudo no Cosmos é importante, interconectado e interdependente. É uma dança criativa constante de energia e consciência com tudo afetando tudo de uma maneira transformadora. Toda a humanidade está integral e ativamente envolvida nesta dança cósmica e, portanto, intrinsecamente conectada e corresponsável pelo resto da criação – não somos mais objetos isolados.

Essa visão de mundo nos torna profundamente conscientes de que também temos um significado e importância profundos.

Como você pode ver, cosmólogos e físicos, teóricos, teólogos e místicos realmente se aproximaram em suas ideias. Os cientistas falam sobre quatro campos que sustentam o que ocorre no Universo e postulam que antes de qualquer coisa existir, antes do “Big Bang”, antes da criação do nosso Universo, esses quatro campos saíram de um agora chamado “Campo Inflaton”, um vasto oceano subjacente de energia – vazio de objetos, mas cheio de potencial criativo. Os teólogos e os místicos também falam sobre ser “Um” dentro e além do Universo material, um vasto vazio que é plenitude, que é a “Base do Ser”, a Fonte de tudo.

Cientistas e Cosmólogos buscam a Unidade de todos de maneira teórica e mental, começando com fatos conhecidos e observações da pesquisa de pensadores e cientistas anteriores e depois construindo ou refutando o conhecimento anterior.

Teólogos e místicos usam as Escrituras, exegese, reflexões orantes para entender o que eles acreditam sobre a Unidade da Realidade Divina, mas depois verificam essas crenças em uma experiência pessoal e intuitiva de oração e meditação.

Ambos usam linguagens e métodos diferentes para talvez chegar à mesma Realidade Suprema – diferentes facetas do mesmo Diamante? Mas o mais importante, ambos também “sabem que não sabem”. Tudo ainda é um mistério.

Kim Nataraja

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