Carta 22 – A Jornada da Meditação
Cara(o) Amiga(o)
Nas palavras de John Main a jornada da meditação é essencialmente “uma peregrinação para o nosso próprio coração”, o local mais sagrado, onde Cristo habita. Meditação é descobrir “a vida do Espírito de Jesus dentro de nosso coração humano”.
Existem estágios distintos que atravessamos, durante esta jornada. Apesar destes estágios estarem apresentados de forma linear nas cartas a seguir, é necessário que tenhamos a consciência de que a jornada é de tipo espiralado, de estágios sobrepostos, que se aprofundam, reaparecem, se misturam e se transformam.
Quando começamos a meditar pela primeira vez, em geral, apenas uma vez por semana ou uma vez ao dia, a disciplina parece fácil e iniciamos com empolgação e um real comprometimento com nossos períodos de meditação. Logo, nossa empolgação inicial é colocada à prova, e torna-se necessário um comprometimento mais profundo com a disciplina, um comprometimento de modo a integrá-la firmemente à nossa vida diária, com um mínimo de duas sessões de meditação diariamente. Com o tempo, essa prática regular de repetir o mantra nos permite deixar para trás nossos pensamentos autoconscientes. Existem momentos de verdadeiro silêncio e quietude, e vislumbres de paz, amor e alegria. Esse é o momento de ficarmos alertas à tentação de nos apegarmos a essas experiências. Precisamos continuar a praticar, sem expectativas ou demandas por quaisquer ‘resultados’. Com o tempo, a disciplina se torna uma real necessidade.
Por outro lado, do silêncio emerge um nível diferente de pensamentos – memórias reprimidas, emoções e medos. Às vezes, estes são dolorosos e sentimos resistência para nos sentarmos. Isso não é surpresa pois, como Walter Hilton, místico inglês do século XIV, colocou: “se um homem voltasse para sua casa e não encontrasse nada a não ser uma lareira apagada e uma esposa resmungona, ele rapidamente iria novamente embora.” Todavia, a liberação dessas emoções reprimidas é necessária: derramamos as lágrimas que não derramamos quando deveríamos; a raiva e as irritações que nós não demonstramos na hora certa precisam encontrar um escape. Quando reconhecemos estes sentimentos e apenas permitimos que eles sejam liberados, nossa alma experimenta a cura. Não precisamos entender de onde estes sentimentos vêm, nem deveríamos agir sobre eles; ao invés disso, apenas precisamos aceitá-los como válidos. A Irmã Eileen O’Hea costumava chamar estas emoções reprimidas e congeladas de ‘blocos de gelo’, que, quando permitimos que venham à superfície, derretem sob o amor e a luz de Cristo.
Também pode acontecer que, tendo meditado por um período de tempo considerável, sejamos tomados pelo que os Padres e Madres do Deserto chamavam de ‘demônio da acídia’. Ele se manifesta como um desencanto com a meditação e com o caminho espiritual; ficamos entediados e tudo se corrompe. Achamos que podemos encontrar coisas mais úteis para fazer com nosso tempo do que nos sentarmos para meditar. Culpamos os outros e o ambiente pela nossa própria falta de atenção. Trata-se de um período de aridez, tédio, inquietação e distrações, no qual o silêncio interior é coisa do passado. Trata-se de nossa ‘experiência do deserto’. É um período de provação espiritual; em que queremos desistir. Tudo o que podemos fazer neste período é perseverar na fiel repetição do mantra. Aceitamos nossa necessidade de Deus e confiamos que Deus nos guia, que está presente, apesar de tudo, nos ama e nunca permitirá que sejamos testados além das nossas forças. (continua)
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL