Carta 24 – O Problema das Distrações

Cara(o) Amiga(o)

“Quero agora abordar uma questão específica com a qual todos nos deparamos. É a questão das distrações. O que você deveria fazer quando começa a meditar e vêm à sua mente pensamentos e distrações? O conselho que a tradição nos oferece é o de ignorar as distrações, repetir a sua palavra, e continuar a repetir a sua palavra. Não gaste energia tentando franzir sua testa, dizendo, ‘não vou pensar no que vou jantar’, ou ‘quem vou encontrar hoje’, ou ‘onde vou amanhã’, ou outra distração qualquer. Não tente usar energia, por menor que seja, para afastar a distração. Simplesmente ignore-a, e a maneira de ignorá-la é repetir a sua palavra.”

(John Main, O Momento de Cristo)

O problema que todos temos para alcançar um silêncio interior na meditação é que nossas mentes estão cheias de pensamentos, imagens, sensações, emoções, percepções, esperanças, arrependimentos, um conjunto interminável de distrações. Santa Teresa d’Ávila disse, certa vez, que a mente humana é como um barco onde marinheiros amotinados amarraram o capitão. Todos os marinheiros se revezam em pilotar o barco e, claro, o barco se move em círculos e acaba por chocar-se de encontro às pedras. Esta é a nossa mente, diz Teresa, cheia de pensamentos que nos levam em todas as direções. Ela também diz:

“Distrações e uma mente que vagueia são parte da condição humana e, assim como comer e dormir, não podem ser evitadas.”

A mente humana já foi comparada a uma grande árvore com macacos pulando, de galho em galho, e tagarelando. Laurence Freeman, comentando esta história, diz que existe um caminho que conduz através desta floresta de macacos tagarelas: a prática de repetir o mantra em nossos períodos diários de meditação. O mantra ajuda na concentração, permitindo-nos superar todas as distrações, palavras e pensamentos, até mesmo pensamentos sagrados. Repetimos o mantra vagarosamente, firmemente com amorosa atenção. Quando percebemos que nossa mente vagueia, simplesmente retornamos ao mantra. Não podemos forçar este caminho de oração por meio da pura força de vontade. Não se esforce demais. Sem esforço, apenas relaxe. Não há necessidade de lutar ou brigar com as distrações. Simplesmente retorne suavemente para o seu mantra. Infelizmente a repetição de um mantra não traz instantaneamente paz, harmonia, ausência de distrações ou silêncio. Devemos aceitar que estamos na peregrinação da meditação. Não devemos nos aborrecer com distrações contínuas. Não devemos ter como objetivo a libertação de todos os pensamentos. John Main constantemente nos aconselha a não vir para a meditação com quaisquer metas ou expectativas. O mantra, em algum momento, criará raízes em nossa consciência, pela simples fidelidade em retornar ao mantra a cada manhã e noite.

Um problema que acontece com frequência às pessoas que meditam é que o processo de pensar continua, mesmo enquanto repetimos o mantra. Existe inclusive um termo para isso: duplo acompanhamento. Aqui também, não há razão para preocupação. Com perseverança o mantra se tornará mais forte e nossos pensamentos diminuirão em intensidade e frequência, enquanto a peregrinação da meditação segue adiante.

Paul Harris ‘Christian Meditation Contemplative Prayer for a New Generation’

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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