ano 4 – carta 23
Examinamos o significado do “Reino”, um conceito importante. Outro [conceito] importante a considerar é o “Espírito”. O que se entende por isso e qual é a relação entre os dois? John Main, em A Palavra que leva ao Silêncio, chama o Espírito de presença de Jesus dentro de nós: “A presença de Jesus dentro de nós, Seu Espírito Santo, nos chama a nos tornarmos plenamente conscientes deste nível de ser. Num piscar de olhos, despertamos para nós mesmos, para o Espírito que habita em nós e, daí, para a consciência da comunhão dentro do próprio Deus, da qual somos chamados a participar. E assim, despertamos… para uma comunhão completa de todos os seres no próprio Ser.” O Espírito, a presença de Jesus dentro de nós, é, portanto, parte da energia que é todo o campo do Reino, conectando-nos como parte integrante do todo, o Todo.
Cada um de nós está enraizado no imenso campo da matéria, energia e consciência que é o Divino. O Katha Upanishad expressa isso tão belamente, como Laurence Freeman aponta em Jesus, o Mestre Interior: “Como o fogo, embora um, toma novas formas em todas as coisas que queimam, o Espírito, embora um, toma novas formas em todas as coisas que vivem, Ele está dentro de todos, e também fora”. Nós e a criação estamos contidos pelo Espírito, mas o Espírito não está contido pela criação.
Laurence Freeman explica a conexão da seguinte forma: “São João diz que Jesus ‘envia’ este Espírito do Pai: o ‘espírito de verdade que emana do Pai’… Ele também descreve Jesus dizendo que o Pai enviará o Espírito, que deve ser nosso advogado, ‘em meu nome’… O Espírito vem do Pai, mas também de Jesus, que é um com o Pai. A comunhão de Jesus com Seu Pai é o Espírito”. O Espírito Santo é, portanto, o Espírito de Amor, a energia do amor que a todos conecta, o Pai e o Filho, a força criadora e a criação, incluindo nós.
Tornar-se consciente deste tremendo dom só se desenvolve gradualmente: “No início, sua presença pode ser apenas vislumbrada como potência, algo que simplesmente temos que esperar, como um nascituro. Gradualmente, essa semente de potência chamada fé cresce em conhecimento e experiência. Jesus é formado e nasce em nós”. O que realmente nos impede de estar conscientes disso é limitarmos nosso ser apenas ao campo do ego. Precisamos crescer para vermos além da parte da realidade na qual o ego se concentra – precisamos quebrar a barreira que nos aprisiona. Se não o fizermos, o resultado é um sentimento de isolamento, solidão e depressão, tão prevalente em nosso tempo, pois tudo o que podemos ver são os objetos materiais separados que nos cercam e estamos cegos para a existência de uma Realidade mais ampla e abrangente, o Divino.
A barreira abre-se gradualmente para nós ao renunciarmos a tudo o que nos diz respeito, por estarmos em silêncio e abertos na meditação, não esperando nada além de confiar e esperar e isso, por sua vez, “determina quão claramente podemos ver Jesus no Espírito. Se permanecermos inconscientes, permanecemos em um estado onírico e não veremos o que só pode ser conhecido na vigília do Espírito”. É o Espírito que separa o véu entre as realidades para nós e nos permite ver o todo do nosso ser, que é muito mais do que pensamos que somos.
Então a meditação dá origem à verdadeira oração. Já não somos mais nós que oramos, mas o Espírito que ora dentro de nós, como John Main nos lembra: “A oração, então, é a vida do Espírito de Jesus dentro do nosso coração humano… Há apenas uma oração, a corrente de amor entre o Espírito de Jesus ressuscitado e Seu Pai, na qual somos incorporados. (A Palavra que leva ao Silêncio)
Kim Nataraja