carta 12 – Quem vocês dizem que Eu sou?
Temos explorado a importância do autoconhecimento em dois níveis: o autoconhecimento do ego e os bloqueios que ele apresenta na jornada espiritual e, o verdadeiro autoconhecimento da base, do fundamento, de nosso ser como ‘filhos de Deus’. Laurence Freeman inicia Jesus, o Mestre Interior com a pergunta que Jesus coloca aos discípulos: ‘Quem vocês dizem que eu sou?’ “Um dia quando Ele estava rezando sozinho na presença de seus discípulos, ele lhes perguntou, “Quem as pessoas dizem que Eu sou? Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista, outros Elias, outros que é um dos profetas que voltou à vida’. ‘E vocês’, ele disse, ‘quem vocês dizem que eu sou?’. Pedro respondeu, ‘O Messias de Deus’ (Lucas 9:18).
Jesus não coloca essa questão por qualquer necessidade egocêntrica de estima, mas fazê-la no contexto da oração facilitou o discernimento, o insight dos próprios discípulos – ‘Quem vocês dizem que eu sou?’ As respostas que ela provoca mostram-nos que, mesmo então, estando perto de Jesus o tempo todo, cada discípulo tinha, ainda, uma perspectiva diferente, não decorrente de seu conhecimento imediato de Jesus, mas de suas próprias necessidades e opiniões.
E o tempo não mudou essa forma de reagir. Nossa resposta é “limitada pelo nosso ponto de vista pessoal e cultural. Uma vez que figuramos Jesus em nossa imaginação, é tentador inscrevê-lo em apoio às nossas opiniões e preconceitos.” As respostas dizem mais sobre nós do que sobre Jesus. Evitamos pensar nesta questão que Jesus fez , como aponta Laurence Freeman: “Para muitos cristãos… esta é uma questão que eles nunca ouviram realmente a sério ou direcionaram para si mesmos. Fazer isso terá um efeito profundo na compreensão de si mesmos, bem como em sua percepção de quem Ele é.”
Sentimo-nos desconfortáveis e até com medo de realmente enfrentar essa questão de, não apenas, quem é Jesus, mas quem realmente somos. O que quer que ouçamos das Escrituras sobre o fundamento divino de nosso ser, nossas feridas e condicionamentos nos impedem de realmente aceitar isso em uma base pessoal.
Exigiria que enfrentássemos nossos ‘demônios’, nossa ‘sombra’ e isso é difícil, pois envolve mudança e, mudança é sempre difícil e dolorosa. Preferimos ficar como estamos – estamos, até mesmo, apegados às nossas feridas, pois são familiares. Precisamos de coragem, humildade e fé para enfrentar nossos ‘demônios’. Mas como diz o ditado: “Dê um nome aos seus demônios e seu coração os tolerará melhor.” Sem fazer isso, o que leva ao autoconhecimento, permanecemos prisioneiros de nossas necessidades e impulsos. Somente o autoconhecimento apoiado pela graça leva à verdadeira liberdade, ao abrir de todos os nossos recursos, incluindo nossas faculdades intuitivas, para acessar o Amor e a Sabedoria Cósmicos.
Em algum nível, compartilhamos “a compreensão universal de que não podemos conhecer nada, muito menos Deus, sem conhecermos a nós mesmos”. O autoconhecimento, o conhecimento de Jesus e de Deus são um. A importância do autoconhecimento é enfatizada não apenas pelos mestres espirituais, mas também pelos filósofos. “Conhece-te a ti mesmo” foi escrito sobre a entrada do Oráculo de Delfos na Grécia Antiga. E de Sócrates ouvimos “A vida não examinada não vale a pena ser vivida”. Antes que possamos “conhecer” Jesus e através dele Deus, primeiro temos que “limpar nossas portas de percepção”, livrando-nos de nossas falsas percepções de nós mesmos e de Deus. Esse verdadeiro autoconhecimento, portanto, não é um autoconhecimento por ele mesmo, mas como uma forma de entrar em contato com seu verdadeiro eu e com a Realidade Divina que nos permeia e nos sustenta.
Além disso, o autoconhecimento anda de mãos dadas com a realização de todo o nosso potencial – ouvimos Jesus dizer: ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.’ (João 10, 10). Quão poucas pessoas realmente ouvem o profundo ensinamento de Jesus e deixam que ele transforme sua vida!
Kim Nataraja