Carta 28 – Amor ao Próximo
Cara(o) Amiga(o)
Para os Padres e Madres do Deserto, as relações humanas eram consideradas fundamentais para se viver na presença de Cristo: Abba João, o anão, disse,
“Não construímos uma casa começando pela cumeeira e trabalhando de cima para baixo. Você deve começar com os fundamentos, a fim de chegar ao topo.” Eles lhe disseram: “Qual o significado deste provérbio?” Ele respondeu: “O fundamento é o nosso próximo, a quem devemos cativar, e esse é o lugar onde devemos começar. Pois, todos os mandamentos de Cristo dependem desse único.”
Em nosso mundo atual, a maioria de nós parece ter perdido de vista esse importante fundamento para nossas vidas. Tendemos a viver como se fôssemos objetos independentes, acotovelando-nos na disputa por posições. É interessante como em nosso tempo alguns cientistas estão mudando a nossa visão da realidade. Na Física Quântica, experimentos têm provado desde o início que os elétrons estão em movimento perpétuo: não apenas interagindo constantemente com outras partículas, mas também em um vasto oceano de energia subjacente, que dá suporte a tudo. A existência desse princípio de ligação, essa força energética chamada de Campo de Ponto Zero, havia sido ignorada como irrelevante para aplicações práticas da ciência quântica e deixada de fora nas equações. Hoje, cientistas interessados nas implicações filosóficas da teoria quântica estão chamando a atenção para ele. A descoberta desse campo quântico constitui prova definitiva de que estamos todos integralmente conectados, e somos parte da teia da vida, juntamente com nossos companheiros seres humanos, com toda a criação e o cosmos, pois nós também somos feitos a partir de átomos e dos seus componentes essenciais, os elétrons. Nós também somos pacotes de energia quântica interligados que trocam informações com esse mar de energia.
Isso é verdade não apenas no nível energético, mas a consciência também está intimamente envolvida. David Bohm, um renomado físico quântico disse: “No fundo, a consciência da humanidade é uma só.” Nossa percepção de separação é uma ilusão, por mais poderosa que seja, mas ainda é apenas uma ilusão, criada pelo ego e seu circuito cerebral esquerdo, que se focaliza na sobrevivência. Nós somos partes, significativas e interligadas, de um todo.
Se realmente adotássemos esse pensamento, isto mudaria a nossa atitude para com toda a família humana e para com o nosso planeta. Tudo o que fazemos tem um efeito sobre o todo. O que acontece com os outros acontece conosco. Precisamos tirar o foco de nós mesmos, e a meditação é a disciplina chave para fazê-lo.
Por causa da vida de oração contemplativa que levavam, os eremitas do deserto eram experiencialmente conscientes desta interconectividade e, para eles, a virtude suprema é um auto-esvaziamento de todos os desejos pessoais, que leva a um amor auto-doador, seguindo as pegadas de Cristo:
“Santo Antão havia orado ao Senhor para que lhe mostrasse a quem ele devia se igualar. Deus lhe havia dado a entender que ele ainda não havia atingido o nível de um certo sapateiro de Alexandria. Antão deixou o deserto, foi ao sapateiro e lhe perguntou como ele vivia. Sua resposta foi que ele dava um terço de sua renda para a Igreja, outro terço para os pobres, e mantinha o resto para si. Isso não pareceu ser uma tarefa fora do comum para Antão, especialmente para ele que havia desistido de todas as suas posses, e vivia no deserto em total pobreza. Portanto, não devia ser esse o ponto onde a superioridade do outro homem residia. Antão disse-lhe: “É o Senhor que me envia, para ver como você vive.” O humilde comerciante, que venerava Antão, disse então a ele o segredo de sua alma: “Eu não faço nada de especial. Apenas, enquanto trabalho, olho para todos os transeuntes e digo: Que eles possam ser salvos, e que eu, apenas eu, pereça.”
por Kim Nataraja
Até a próxima semana!
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL