Carta 48 – A Natureza do Divino
Cara(o) Amiga(o)
Os primeiros Padres Cristãos enfatizavam que não poderíamos conhecer a Deus com nossa mente racional. Nenhuma imagem, conceito ou nome poderia jamais Lhe fazer justiça. De fato, eles viam como blasfêmia associar um nome a Deus, porque isso limitaria o ilimitado, ou daria nome ao inominável. Nós podemos, todavia, experienciar a Divina Presença, por termos algo em comum, conforme a explicação que vimos semana passada. Podemos conhecer a Deus intuitivamente, por meio do nosso ‘nous’, o ponto mais elevado de nossa alma, que é também nosso órgão de oração. Podemos ver claramente o quanto a teologia de John Main está alinhada com esses primeiros pensamentos cristãos, e compreender ainda mais claramente sua ênfase na importância de deixarmos os pensamentos e as imagens para trás a fim de entrarmos no silêncio de Deus. É interessante vermos como Clemente de Alexandria lidou com a impossibilidade de conhecermos a Deus por meio de imagens e pensamentos. O Bispo Kallistos Ware esclarece em seu capítulo do livro ‘Journey to the Heart’:
“Em sua teologia mística, a ideia dominante de Clemente, sua cena principal, é o mistério divino. Ele é um teólogo apofático, o primeiro grande pensador Cristão a utilizar a teologia negativa. Apofático é basicamente um termo grandiloquente para negativo, ou de negação, e catafático um termo grandiloquente para afirmativo. E, para ilustrar os significados de catafático e apofático, aqui estão exemplos de avisos públicos:
Aqui está uma sinalização catafática: você vê um nível cruzando acima de uma linha ferroviária, um poste com uma caixa afixada e evidentemente um sino elétrico dentro da caixa, e um aviso que diz:
Perigo! Pare, olhe e ouça.
Quando o sino estiver tocando, não cruze a linha.
Se o sino não estiver tocando, ainda assim pare, olhe
e ouça, para o caso do sino não estar funcionando.
Portanto, em um enfoque catafático, todas as possibilidades são expressas e consideradas.
Aqui está um aviso apofático vindo da Austrália:
‘Esta estrada não leva nem a Townsville nem a Cairns.’
Este é exatamente o método utilizado pelos teólogos místicos apofáticos. Eles não dizem o que Deus é, porque ele é mistério além de nossa compreensão. Eles dizem apenas o que ele não é.
Se prosseguimos com esse enfoque logicamente e suprimimos todas as possíveis qualidades da ideia de Deus que possamos ter: ‘Você fica com a noção de puro ser e isso é o mais próximo que você pode chegar de Deus…Deus não está no espaço, mas acima tanto de local como de tempo, de nome, e de pensamento. Deus não tem limites, nem forma, nem nome.’ (Clemente)
(Extraído do livro ‘Journey to the Heart – Christian Contemplation through the centuries’)
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL