Carta 28 – Meditação e Lectio Divina

 Cara(o) Amiga(o)

Nossa tradição se baseia no ensinamento de Jesus e na maneira pela qual esse ensinamento foi vivido pelos Padres e Madres do Deserto do século IV. Para eles, assim como para John Main e Laurence Freeman, as escrituras constituem a base de suas vidas. Quando alguns monges vieram perguntar a Santo Antão como deveriam viver, ele lhes disse: “Ouçam as Escrituras. Elas devem lhes ensinar como.”

A oração contemplativa anda de mãos dadas com a leitura das Escrituras de modo atento e profundo, já conhecida no século II como lectio divina. As qualidades necessárias para a meditação – atenção, silêncio, deixar os próprios pensamentos e opiniões para trás – são as mesmas para ler as escrituras de maneira contemplativa. Além disso, ambas podem levar a uma experiência semelhante, e verdadeiramente mística. Na meditação, acreditamos que encontraremos o espírito de Cristo no silêncio do nosso coração. Engajar-se com um texto bíblico de maneira tão profunda também leva a um encontro pessoal com o Cristo ressuscitado, o Verbo.

Laurence Freeman em seu livro ‘Jesus, o Mestre Interior’ enfatiza que ler os evangelhos desta forma contemplativa leva a um verdadeiro discernimento sobre quem Jesus era, e sobre a essência de seu ensinamento, porque “Na lectio, quebramos a linguagem e vamos além do pensamento para o insight.” Não apenas conhecemos profundamente quem Ele era, mas também percebemos nossa própria natureza essencial: “Lemos os evangelhos e igualmente somos lidos por eles… Essa relação com a Palavra permite que o texto do evangelho se torne um caminho da mente ao coração… é um despertar da inteligência mística, que quando acontece beneficia a vida como um todo.” Este encontro com Cristo no texto do evangelho, bem como na oração, é visto, portanto, como tendo um efeito profundo no indivíduo, alterando sua visão da realidade e levando à transformação, à comunhão de nosso verdadeiro Eu com o Cristo interior.

Essa forma de leitura reflexiva profunda dos evangelhos faz parte da tradição cristã desde o momento em que os evangelhos foram escritos. A oração, a leitura das Escrituras e a teologia andavam de mãos dadas; a teologia emergia da experiência contemplativa e era uma forma de tentar compreender seu significado, aproximando a experiência mística e a compreensão dela, ‘trazendo a mente para o coração’. Isso continuou a ser assim até por volta do século 12, quando a racionalidade devido à redescoberta da filosofia de Aristóteles começou a ser mais elogiada do que o pensamento místico / espiritual, levando a uma separação entre a oração e a teologia.

Curiosamente, agora há movimentos de alguns cientistas para construir pontes entre a compreensão científica e racional da realidade e a maneira espiritual e intuitiva de experimentá-la. O que Laurence Freeman descreveu como um despertar da inteligência mística em termos espirituais pode agora ser explicado em termos racionais como a mudança que ocorreu em direção à maneira intuitiva do lado direito do cérebro de perceber a realidade.

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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