Carta 34 – Meditação na Tradição Cristã

Cara(o) Amiga(o)

Ser capaz de mudar para diferentes modos de ser é uma qualidade humana, muitas das coisas que eu disse se aplicam não apenas à meditação na tradição cristã, mas também à forma de oração silenciosa e atenta encontrada em outras tradições religiosas. Vamos então nos ater por um momento em nos lembrar o que torna nossa meditação cristã.

No seu ensinamento, Jesus se preocupa em nos ajudar a voltarmos a ter consciência do Reino, da Presença de Deus, e recomenda a oração interior silenciosa. Encontramos a essência da meditação / oração contemplativa – silêncio, solidão e interioridade – em suas palavras no Sermão da Montanha: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechando tua porta, ora a teu Pai que está lá, no segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te recompensará”. (Mt 6,6). Cassiano explica isso da seguinte maneira: “Oramos em nosso quarto quando retiramos nossos corações completamente do barulho de cada pensamento e preocupação e revelamos nossas orações ao Senhor em segredo, intimamente. Rezamos com a porta fechada quando, com os lábios fechados e em silêncio total, rezamos não ao buscador de vozes, mas de corações.”

Blaise Pascal, cientista, escritor, filósofo e teólogo católico francês do século XVII era da opinião de que todos os nossos sofrimentos derivavam de uma única causa: nossa incapacidade de permanecermos sentados sozinhos em silêncio em uma sala, e ele sentia que isso acabaria por nos levar à ruína.

Como disse John Main, a menos que nós tiremos o holofote da consciência do ego e entremos no silêncio interior, não poderemos vislumbrar a luz do nosso verdadeiro Eu nem nos tornarmos cientes de nossa ligação com a Realidade Suprema, nem “ter vida em toda a sua plenitude”. Laurence Freeman ao discutir a meditação em ‘Jesus, o Mestre Interior’ destaca esta mudança necessária: “A oração deve estar enraizada na sinceridade do verdadeiro Eu, e não na autoconsciência do ego.” Ele se baseia nas palavras de Jesus: “Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles. Do contrário, não recebereis recompensa junto ao vosso Pai que está nos céus”. (Mt 6,1)

Laurence Freeman continua: “Sempre que encontramos segurança ou que a aprovação dos outros nos é agradável, a autenticidade da oração fica comprometida”. Jesus estende este distanciamento das necessidades e desejos do ego à vida comum: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida quanto ao que haveis de comer, nem com o vosso corpo quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa?”. (Mt 6, 25)

O uso de uma palavra ou frase curta também é enfatizado no ensino deste sermão: “Nas vossas orações não useis de vãs repetições, como os gentios, porque imaginam que é pelo palavreado excessivo que serão ouvidos. Não sejais como eles, porque vosso Pai sabe do que tendes necessidade antes de lho pedirdes”. (Mt 6, 7- 8) Mais adiante na parábola do fariseu e do publicano, Jesus recomenda a forma de oração do publicano, que simplesmente repete a frase: “Meu Deus, tem piedade de mim, pecador!” (Lc 18, 10-14). Nossa meditação, portanto, é cristã porque se baseia em nossa fé e crença nos ensinamentos de Jesus.

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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