Carta 33 – A Condição Humana Essencial
Cara(o) Amiga(o)
A condição de estar na Presença de Deus, no Reino, é uma capacidade humana inerente. Todo mundo pode passar através da porta estreita de atenção e fé – fé é a ligação essencial que existe entre a humanidade e a Realidade Divina.
Os primeiros padres da Igreja não tinham nenhuma dúvida de que a união com o Divino é possível para todos, independente de quem você pensa que seja: “Deus é a vida de todos os seres livres. Ele é a salvação de todos, dos que creem e dos que não creem, do justo e do injusto, do piedoso e do impiedoso, daqueles livres das paixões ou daqueles presos nelas, dos monges ou daqueles vivendo no mundo, dos estudados e dos iletrados, dos saudáveis e dos doentes, dos novos e dos velhos. Ele é como uma corrente de luz, um vislumbre do sol, ou as mudanças do tempo que são iguais para todos.” (Gregório de Nissa)
A razão para isso pode ser encontrada em sua teologia. Os filósofos gregos, em particular Platão, foram os primeiros a formular a ideia de que temos algo essencial em comum com o Divino. Eles chamavam isso de “nous”, uma inteligência intuitiva pura distinta da inteligência racional. Ter algo parecido com o Divino dentro de nós permite que conheçamos o Divino, uma vez que a ideia que prevalecia no pensamento da época era de que somente “um similar pode conhecer o seu similar”. Nossa experiência do dia a dia também confirma isso. Nós sabemos que para a comunhão ser possível deve haver semelhança; somente quando temos alguma coisa importante em comum com outra pessoa é que nós podemos verdadeiramente nos relacionar com ela, podemos ser “um” em mente e alma.
Um dos primeiros Padres da Igreja, Clemente de Alexandria, viu a correspondência entre o conceito de “nous” e o conceito expressado no Gênesis de sermos criados conforme a “imagem de Deus”. Segundo ele, Orígenes, os Padres da Capadócia, Evágrio e, ainda mais tarde, Meister Eckhart, todos entenderam essa “imagem de Deus” como eternamente e originalmente um com Deus.
Para entrar nesse nível mais elevado da realidade, nós precisamos da oração contemplativa, à qual a meditação conduz. “Pode ser verdade que o princípio Divino está presente em todo ser, mas nem todo ser está presente Nele. Nós mesmos habitaremos com Ele se o chamarmos com orações muito sagradas e uma mente tranquila.” (Dionísio, o Areopagita)
Nós todos sabemos que a jornada que leva ao silêncio não é fácil, mas não estamos sozinhos neste caminho, como Evágrio, o Padre do Deserto do século 4 mostra: “O Espírito Santo sente compaixão por nossas fraquezas, e apesar de sermos impuros, ele frequentemente nos visita. Se ele encontrar nosso espírito rezando para ele por amor pela verdade, então ele desce sobre nós e dispersa todo o exército de pensamentos e de raciocínio que nos ataca.”
Tudo o que precisamos fazer é perseverar e, ao fazer isso, Cristo, o espírito que gera a vida, nos ajudará a acessar “o maior poder da consciência humana… a sua capacidade de transcender as suas operações mentais, de ir além dos seus maiores pensamentos, e então ser espírito.” (Laurence Freeman) O resultado disso, como Evágrio disse, é que: “Se você rezar verdadeiramente, você chegará a um senso mais profundo de confiança. Então os anjos caminharão com você e iluminarão você a respeito do significado das coisas criadas.”
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL