Carta 35 – Além do Pensamento

Cara(o) Amiga(o)

A experiência que São Paulo teve do Cristo Ressurreto espelha a experiência que temos dEle no silêncio profundo de nossa meditação: “Ele é uma presença ressurreta e real, um encontro na profunda experiência interior do discípulo e novo crente.” (Laurence Freeman) Ainda assim, quando começamos a experienciar essa presença silenciosa, em pânico nos retraímos. Ao deixar para trás nossos pensamentos, deixamos para trás nosso eu, tal como Jesus nos ordena. Mas, sentimos muito desconforto com o abandono de nosso senso de identidade egóica; prestes a ser abandonado, o ego se sente ameaçado e nos enche de um forte medo da solidão e do isolamento. Faz-nos sentir estarmos entrando em um abismo ameaçador, uma vacuidade. Nossos egos sentem-se totalmente fora de controle. No entanto, isso é precisamente o que precisa acontecer. Precisamos entrar na “Nuvem do Não Saber”, tal como a chamou o místico anônimo do século XIV. Apenas por meio do abandono do ego, dessa superfície pensante de nosso ser, poderemos experienciar quem realmente somos, e quem é Deus realmente. Quando resolvermos “mergulhar de cabeça”, em vez daquele senso de solidão e isolamento que o ego nos havia incutido, nos sentiremos amparados num abraço amoroso com todos, e com todas as coisas. Aquela vacuidade ameaçadora torna-se uma plenitude de amor e interdependência.

Essa sensação de amparo amoroso, protegido por uma rede do ser, só pode ser experienciada. Por meio da atenção ao nosso mantra, por meio da focalização unidirecionada em nossa palavra, desligamo-nos de nossos pensamentos e nos ligamos a um meio de conhecimento diferente, intuitivo e experiencial. Esse meio de conhecimento faz parte de nossa natureza, tal como as pesquisas com crianças o tem demonstrado: “Estudos encefalográficos em crianças com menos de dois anos de idade mostram que seus cérebros funcionam permanentemente em estado alfa (o que em adultos corresponde ao estado alterado de consciência) em vez do estado beta que é o comum da consciência madura” (Lynne Taggart em “The Field”) Por meio da meditação, portanto, podemos voltar a uma maneira de percepção que inicialmente era instintiva e inconsciente.

Ao abandonarmos o ego cheio de pensamentos, portanto, não estamos entrando no esquecimento e na não existência. Não perdemos nossa individualidade: “Sem dúvida o indivíduo perde toda noção de separação com o Uno, e experiencia uma unidade total, mas isso não significa que o indivíduo deixa de existir. Assim como todo elemento na natureza é um reflexo único da Realidade una, assim também todo ser humano é um centro único de consciência na consciência universal.” (Bede Griffiths)

Precisamos nos lembrar que a palavra ‘indivíduo’ “originalmente… significava indivisível… Um indivíduo era uma pessoa ou coisa entendida em relação ao todo ao qual pertencia. O todo definia o indivíduo porque o indivíduo era indivisível dele” (Laurence Freeman em ‘Jesus o Mestre Interior’)

por Kim Nataraja

Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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