Carta 47 – Vida ativa e a vida contemplativa na Teologia Mística de Orígenes

Cara(o) Amiga(o)

Conforme explicado na introdução ao Capítulo sobre Orígenes no livro ‘Journey to the Heart’, “Orígenes nasceu em Alexandria (Egito), e foi altamente educado na sabedoria grega, judia e cristã. Ainda muito jovem, aos 17 anos, o Bispo Demétrio de Alexandria o nomeou Chefe da Escola Catequética como sucessor de Clemente. Ele foi um estudioso extremamente talentoso, um professor dotado e o primeiro a apresentar uma sistemática e profunda teoria Cristã do cosmos em resposta à teologia e cosmologia Gnósticas, em sua obra ‘Sobre os Princípios’. Ele a fundamentou inteiramente sobre uma leitura alegórica e mística das Escrituras, e foi provavelmente escrita em resposta a perguntas feitas por estudantes de nível elevado educados na Escola Catequética, que buscavam entender o ensinamento Cristão em contraste com o contexto das filosofias Platônica, Estoica e Gnóstica.”

Na próxima semana gostaria de explorar seu modo de utilizar a Escritura, mas esta semana gostaria de continuar com a discussão sobre os dois lados de nossa natureza: um deles em contato com a realidade material e o outro em contato com a realidade espiritual, tal como se vê na tradição Ortodoxa. O Bispo Kallistos Ware explica: “Orígenes nos dá um mapa da vida Cristã, que permanece um clássico no Oriente Cristão. Ele fez um contraste duplo entre ‘praxis’ e ‘theoria’, entre vida ativa e vida contemplativa. Essa distinção remonta pelo menos a Aristóteles e, certamente, a encontramos em Fílon de Alexandria, assim como em Clemente. É importante compreendermos o modo pelo qual estes termos são utilizados nas fontes do Cristianismo oriental. No ocidente moderno, quando falamos sobre a vida ativa ou contemplativa, estamos normalmente pensando sobre o status exterior das pessoas. A vida ativa significa vida no mundo, a vida de um assistente social, um missionário ou um professor; ela se refere a pessoas que pertencem a uma ordem religiosa ativa. Em seu uso moderno vida contemplativa normalmente significa vida em uma comunidade religiosa fechada, adequada a pessoas mais dedicadas à oração, do que ao serviço externo.

Para os Padres Gregos, todavia esses termos não se referem a situações exteriores, mas ao desenvolvimento interior. Vida ativa significa o esforço para adquirir virtudes e extirpar vícios, ao passo que vida contemplativa significa a visão de Deus. Então, com frequência, pode acontecer que alguém que viva em uma comunidade religiosa fechada, ou mesmo um eremita, ainda se encontre no primeiro estágio da vida ativa. Por outro lado, é possível que uma pessoa leiga comprometida com uma vida de serviço no mundo pudesse se encontrar no segundo estágio, pudesse ser uma verdadeira contemplativa.

Por exemplo, nas palavras dos Padres do Deserto, se diz que surgiu uma voz que disse a Santo Antão: “Na cidade, existe alguém tão santo quanto ti, um leigo, um médico, que doa todo o dinheiro que economiza aos pobres, e passa o dia a cantar o Trisagion com os anjos.” Se você canta um hino o dia inteiro, você certamente é um contemplativo, mas aqui temos que isto foi dito a respeito de alguém que vivia no meio de uma cidade cosmopolita praticando uma profissão muito exigente. E, ainda assim, diz-se que ele era equivalente ao grande Antão, Pai dos eremitas. Orígenes associa estes dois estágios com as figuras de Marta e Maria em Lc, 10: Marta representando a vida ativa, ocupada com muitas coisas, e Maria representando aquela que se concentra na única coisa que é necessária.” 

Bispo Kallistos Ware

(Extraído do livro ‘Journey to the Heart – Christian Contemplation through the centuries’)

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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