A integração do humano e do divino
Por Kim Nataraj
A integração dos dois lados do nosso caráter, o ativo e o contemplativo, é vista como a integração do nosso lado humano e do nosso lado Divino.
A integração dos dois lados do nosso caráter, o ativo e o contemplativo, é vista no Evangelho de São João como a integração do nosso lado humano e do nosso lado Divino, como exemplificado por Jesus. No seguinte trecho de ‘Viagem ao Coração’ Laurence Freeman explica:
“O de João é o mais místico dos evangelhos, mas ao mesmo tempo, nos oferece vislumbres comoventes da humanidade de Jesus – seu estar cansado em um dia quente e precisar de um copo de água, seu choro por um amigo que morreu – que não encontramos nos outros três relatos. Bede Griffiths sentiu sua vida tomar um novo rumo depois de ler este evangelho em um momento intenso em sua busca por profundidade e significado. Estava claro que esta era uma das obras mais significativas do gênio humano. Qualquer que fosse sua importância precisa, era o registro de uma experiência de uma profundidade insondável. Tanto a pessoa quanto a doutrina retratada eram de uma beleza além de toda imaginação humana. Não havia nada em Platão que pudesse ser comparado a eles. “Percebi que rejeitar isso seria rejeitar a maior coisa de toda a experiência humana. Por outro lado, aceitá-la seria mudar todo o seu ponto de vista. Seria passar da razão e da filosofia para a fé”. (Beda Griffiths, A Corda de Ouro)
O misticismo de João é novo na história do mundo, não apenas filosoficamente, mas por causa de sua visão da mais alta realidade integrada com os aspectos mais comuns do mundo sensorial humano. Isto é evidente não só no Evangelho que leva o seu nome, mas nas cartas que lhe são atribuídas e que o declaram como uma mística do amor – humanamente divino ou divinamente humano, segundo o vosso ponto de partida: “Estava lá desde o princípio, ouvimos, vimos com os nossos próprios olhos, olhamos e sentimos com as nossas próprias mãos, e é disso que nós contamos. Nosso tema é a palavra de vida. Esta vida tornou-se visível: vimos e prestamos nosso testemunho… para que vocês e nós juntos possamos participar de uma vida comum’. (1Jo 1,1-3)
No entanto, apesar dessa mundanidade, a “alta cristologia” de João é apresentada com ousadia no Prólogo do Evangelho, onde ele iguala Jesus, o homem, ao Logos eterno. A união entre a palavra e a carne é o paradoxo central do evangelho de João. Como poderíamos esperar da oposição central da palavra e da carne, todo o evangelho é construído sobre o paradoxo. Em toda a tradição mística cristã, a expressão da experiência mais profunda geralmente emprega o paradoxo para dizer o indizível…. A pessoa do próprio Jesus é o foco unificador dessas aparentes contradições, e o discipulado pessoal é a maneira como esse foco se torna uma força na própria vida….
A visão mística de João explora o mais alto estado de união com Deus. Isso está explícito teologicamente na afirmação do Verbo feito carne no Prólogo. Existencialmente, ela é ilustrada em tudo o que Jesus diz, faz e sofre em sua humanidade, inclusive em sua morte. Ele não faz e diz nada que não reflita explicitamente sua relação (não dualista) com o Pai.”
Laurence Freeman OSB
(Trecho de ‘Viagem ao Coração – Contemplação Cristã através dos Séculos – um Guia Ilustrado’ Editor Kim Nataraja)
1 março 2024