Carta 5 – Por que começamos a meditar?
Cara(o) Amiga(o)
O ímpeto para começar a meditar, frequentemente, é o momento em que somos confrontados com algo fora do comum, algo que nos sacode de nossa percepção cotidiana da realidade. Pode ser um momento de crise, ou um evento de grandes proporções em qualquer estágio de nossa vida, quando a realidade, aparentemente segura e imutável em que vivemos, é virada de cabeça para baixo: somos rejeitados por um indivíduo ou por um grupo; encontramos o fracasso, perda de autoestima; perdemos um emprego valorizado, ou nossa saúde de repente nos falta. O resultado pode ser uma recusa em aceitar a mudança, uma descida na negatividade, na desconfiança e no desespero. Ou, por outro lado, se confrontados com o fato de que nossa realidade não é tão imutável quanto a considerávamos, podemos encarar o desafio de mudar a nossa maneira de olhar para nós mesmos, nossa estrutura habitual, nossas opiniões e valores.
Às vezes, pode ser um momento de beleza única que nos faz compreender que existe mais do que aquilo que os olhos enxergam. Bede Griffiths, o sábio mestre beneditino, falava de como a sua consciência da verdadeira Realidade não surgiu de uma crise, mas da contemplação da Natureza. Em “The Golden String” ele relata como foi levado pela beleza de um canto de pássaro, e de um espinheiro-alvar em flor, a um profundo sentimento de assombro diante da visão do pôr do sol, enquanto uma cotovia “derramava sua canção”. Ele sentiu que “tomava consciência de um outro mundo de beleza e mistério” e, especialmente à noite, sentiu em muitas outras ocasiões, também a “presença de um insondável mistério”.
Nem sempre esse momento é tão dramático; a percepção varia enormemente de pessoa para pessoa, de momento para momento. Alguns de nós podem ter tido um momento de “transcendência”, a consciência de uma realidade diferente, uma libertação da prisão do “ego”, enquanto escutava música, poesia ou estava absorto numa obra de arte. Outros podem nunca ter estado conscientes de um real momento de epifania e, contudo, em algum nível, podem ter estado sempre cônscios da existência de uma realidade superior e estarem, sem sabê-lo, tornando-se gradualmente mais sintonizados com essa realidade. Bem no início da meditação, nós frequentemente tocamos a experiência de uma paz verdadeira e mesmo de uma alegria que fervilha. Momentos como esses, em que somos libertados da nossa auto preocupação, são dádivas Divinas.
Em todo caso, esse vislumbre não é o fim, mas o início: um ímpeto para crescer. O anseio para saber mais sobre essa realidade intuída torna-se mais forte, e nós procuramos pessoas que possam nos ajudar a abordá-la. Nesse ponto, frequentemente descobrimos a meditação, de uma forma ou de outra. É o início do trabalho de esclarecer e integrar a experiência, e assim permitir a escalada para uma consciência espiritual, autenticidade pessoal e uma Verdade transpessoal.
O fato de uma epifania, um vislumbre de uma outra realidade, ser sempre o início de nossa jornada em direção a uma oração mais profunda, também significa que não podemos trazer alguém para a meditação, que não tenha sentido essa necessidade desejosa de “algo mais” no seu próprio ser. Quando nos sentimos chamados a formar um grupo, tudo o que podemos fazer é anunciar isso na nossa vizinhança ou na nossa igreja, e convidar as pessoas, mas se elas irão adotar a meditação como uma disciplina de oração não está em nossas mãos, mas no dom do Divino. Não podemos “converter” os outros para a meditação; podemos acolhê-los e encorajá-los a experimentar, mas é da livre escolha deles aceitar ou não essa oferta.
Obs.: O livro de Laurence Freeman “Uma Pérola de Grande Valor” é muito útil ao se considerar criar um grupo (https://caeluminterram.wordpress.com/2012/12/15/uma-perola-de-grande-valor/).
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL