Carta 12 – O Problema da Linguagem

Cara(o) Amiga(o)

A única coisa que a filosofia e a teologia nos ensinam é a fundamental impossibilidade de nossas capacidades racionais limitadas para a compreensão verdadeira da Realidade Divina. Qualquer tentativa apenas coloca limites e restrições ao sem nome e sem forma. Por causa disso, os primeiros cristãos viam como blasfêmia relacionar qualquer nome a Deus. Em última análise, não existem respostas certas; as ideias frequentemente contradizem e suplantam as tentativas anteriores. Todas as teorias e teologias são tentativas pessoais limitadas de interpretação. Alfred Whitehead disse: “É impossível meditar acerca do tempo e do mistério da passagem criativa da natureza sem uma emoção avassaladora quanto às limitações da inteligência humana.” Tomás de Aquino é um exemplo disso.

Após uma vida inteira escrevendo e teorizando sobre o Divino, ele teve uma experiência espiritual que o tornou intensamente consciente da inutilidade de nossas tentativas de racionalização. Ele viu que tudo o que havia escrito era apenas “palha”, e não escreveu mais. O problema que todos os místicos enfrentam é que a linguagem é a única ferramenta de que dispomos para expressar qualquer experiência, embora possa apenas sugerir a verdade, e não a representar verdadeiramente. O ditado “Dar nome não é saber” é muito pertinente. No entanto, tudo o que temos é linguagem.

Além disso, a experiência do Divino também é acompanhada pelo profundo desejo de compartilhar esta verdade libertadora com os outros. Mestre Eckhart é um exemplo disso. Ele afirma em um de seus sermões alemães, que mesmo se não houvesse ninguém na Igreja, ele ainda teria que fazer seu sermão, tão forte é esse desejo de ajudar os outros a verem claramente: “Se os ignorantes não forem ensinados, eles nunca aprenderão, e nenhum deles jamais conhecerá a arte de viver e morrer. Os ignorantes são ensinados na esperança de transformá-los de ignorantes em pessoas iluminadas.” Essa mesma urgência também é expressa por John Main: “No entanto, temos que tentar falar, embora falemos apenas para fazer as pessoas se calarem … Temos que encontrar uma maneira de tentar explicar o que é a jornada e por que ela vale tanto a pena.”

Todos eles, Tomás de Aquino, Mestre Eckhart e John Main enfatizam, portanto, a importância da própria experiência, em vez de falar ou ler sobre ela. John Main, assim como Mestre Eckhart, via o abandono de pensamentos, conceitos e imagens como a base essencial de nossa prática de oração.

Em seu livro ‘A Palavra que leva ao Silencio’ John Main diz: “A libertação que experimentamos na oração silenciosa é precisamente a libertação dos efeitos inevitavelmente distorcidos da linguagem quando começamos a experimentar o domínio íntimo e transcendente de Deus dentro de nós.”

“Essa experiência, por sua vez, verificará as verdades da nossa crença “de que somos e estamos em Deus, e que n’Ele descobrimos a nossa própria identidade essencial e o nosso significado único” (do livro Momento de Cristo de John Main).

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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