Carta 40 – A Contemplação da Natureza e a Oração Silenciosa

Cara(o) Amiga(o)

As ideias de Evágrio sobre a contemplação de Deus através da natureza e das escrituras, e através da oração pura, eram uma ideia fundamental dos Padres e Madres do Deserto: “Um dos sábios da época foi encontrar o homem santo, Antão do deserto, e perguntou-lhe: ‘Padre, como pode ser feliz quando está privado dos livros que são fonte de consolação?”’ Antão respondeu: “Meu caro amigo filósofo, o meu livro é a natureza das criaturas, e este livro está sempre diante de mim quando eu quero ler a palavra de Deus.” 

Encontramos a mesma ideia expressa no cristianismo celta: “Através das palavras da Escritura e das espécies da criação a luz eterna é revelada”. (João Escoto Erígena c.800-c.877 dC). Trata-se de uma experiência humana, não ligada a tempo e lugar. A contemplação da natureza nos ajuda a deixar de lado os nossos pensamentos e imagens que obscurecem a Presença Divina. Tenho certeza que muitos de vocês, lendo estas “Cartas”, tiveram uma experiência semelhante a fronteiras que caem, a um sentido de interrelação, um senso de admiração e reverência, um senso de “mais”, quando confrontados com a beleza da natureza, com a beleza de um pôr do sol.

Essa mesma experiência também é proporcionada pela oração silenciosa, à qual conduz a muitas formas de oração. Mas, para mim, é especialmente a meditação que permite que isso aconteça. A chave, em todos esses modos de oração, é a de deixar para trás pensamentos e imagens, até mesmo de Deus: “Quando você está orando, não imagine a Divindade como alguma imagem formada dentro de si mesmo. Evite também permitir que o seu espírito se impressione com o selo de alguma forma particular, mas sim, livre de toda a matéria, aproxime-se do Ser imaterial e então alcançará a compreensão”. Este desnudar-se gradual de todas as imagens e formas de si-mesmo, e de Deus, permitirá o contato direto com a Realidade Divina.

As duas etapas de da jornada espiritual de Evágrio, ‘praxis’ e ‘theoria’ (a oração, a purificação dos desejos do ego e a contemplação) andam de mãos dadas. Nós não estamos falando de um processo linear, não é uma questão de tornar-se inteiro antes da contemplação poder ter lugar. Algumas vezes é um processo de sobreposição, outras vezes, um súbito aprofundamento da consciência, uma “metanóia”, um olhar em volta, uma nova maneira de ver a realidade, amiúde, é na verdade o início da viagem. Não devemos assumir que é só o nosso esforço que vai nos levar à Presença, a graça tem um papel igualmente importante, como Evágrio sublinha:

“O Espírito Santo se compadece da nossa fraqueza e, embora sejamos impuros, ele vem nos visitar, muitas vezes. Se ele encontrar nosso espírito orando a ele, por amor à verdade, então ele descerá sobre esse espírito e dissipará todo o exército de pensamentos e raciocínios que o acossam. E ele também o inspirará para as obras da oração espiritual.”

Nós não precisamos ser perfeitos no início da nossa peregrinação para o nosso verdadeiro Eu e para o Cristo que nos habita. Tudo o que precisamos fazer é perseverar fielmente em nosso caminho de oração e estar abertos à transformação. Abandone o medo, para que o amor possa ocupar seu lugar.

por Kim Nataraja

 Até a próxima semana!

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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