Carta 21 – Posso mudar meu mantra?

Cara(o) Amiga(o)

No Cristianismo, orar por meio da repetição de uma determinada frase ou frases sempre foi uma prática muito bem estabelecida ao longo dos tempos, lembremo-nos do ‘Pai Nosso’, da ‘Ave Maria’, do ‘Glória’, e da ‘Oração de Jesus’ na tradição ortodoxa. Cassiano que colecionava todos os ensinamentos dos Padres e Madres do Deserto no 4º século, recomendava a frase dos Salmos: ‘Ó Deus, vinde em meu auxílio, ó Senhor, apressa-te em me socorrer’. O primeiro seguidor de São Francisco o ouviu rezar repetindo a noite toda ‘Deus meus et omnia’(Meu Deus e Meu Tudo). Santo Agostinho tem a fama de ter usado a frase: ‘Noverim me, noverim te’ (Que eu me conheça, para que eu possa te conhecer). A filósofa e mística francesa do século 20, Simone Weil, costumava recitar o ‘Pai Nosso’ em grego. Outros mantras que foram sugeridos são a palavra Aramaica para Pai ‘Abba’, Paz, Kyrie Eleison e Veni Sancte Spiritus: de fato, quaisquer frases que tenham significação espiritual para um cristão.

Para escolher um mantra, no entanto, é melhor seguir o conselho de nosso professor. John Main preferia usar ‘Maranatha’ como mantra. Ele o recomendava por três razões: primeiro porque era uma oração em Aramaico, a língua que Jesus falava, significando ‘Vinde, Senhor’ ou ‘O Senhor vem’; segundo, porque, exceção feita ao ‘Pai Nosso’, trata-se da mais antiga oração cristã conhecida. (A primeira carta de São Paulo aos Corínthios está escrita em grego, porém ele a termina com o Aramaico ‘maranatha’, o que mostra o quanto esta oração era conhecida dos primeiros cristãos.)   E, em terceiro lugar, tem a vantagem de não apresentar associações para nós, de modo a não nos conduzir a pensamentos, tão facilmente.

A razão principal de usar uma oração, um mantra, é a de desconectar a mente de quaisquer outros pensamentos e focá-la, com amor e com uni direcionamento, no Divino. Começamos repetindo o mantra mentalmente, e depois de um tempo, passamos a nos conscientizar de que o estamos escutando e, com o passar do tempo, nos mudamos completamente, da mente para o coração, e o mantra ecoa por si só no centro de nosso ser. Este processo natural não aconteceria se trocássemos o mantra frequentemente.

Laurence Freeman descreveu o efeito do mantra nas seguintes palavras: “Algum tempo atrás, assisti a um concerto. Enquanto aguardávamos o início do concerto, eu prestava atenção à orquestra que começava a afinação. Era talvez o som mais dissonante que havia ouvido. Cada instrumento tocava à sua maneira, em completa desarmonia. Aí, aconteceu que o oboé, um instrumento pequeno e discreto, começou a tocar e todos os instrumentos afinaram-se com ele. Gradativamente a total desarmonia apagou-se. Fez-se o silêncio, e o concerto começou. Me parece que o mantra é muito parecido com o oboé. Na meditação, o mantra conduz todas as partes de nosso ser, uma por uma, pedaço por pedaço, para a harmonia. E, quando estamos em harmonia, somos a música de Deus.”

Consequentemente, é muito importante que mantenhamos o mesmo mantra, para que ele possa enraizar-se dentro de nosso ser, e ter esse efeito de harmonização.

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

Publicações similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *