Carta 45 – A Resistência do Ego
Cara(o) Amiga(o)
Temos visto como todos os demônios de Evágrio derivam de nosso medo, o medo de não sobreviver, de fato, nosso medo da morte. No momento em que começamos a meditar o “ego”, nosso Rei e Rainha da sobrevivência, entra em ação. Ele não gosta que entremos no nível de silêncio, onde vamos encontrar o “self”, o Cristo interior, onde estaremos fora de seu controle total. É o especialista em sobrevivência, o guarda do nosso ser consciente, e quer manter-nos na sua própria esfera de influência. É como um pai superprotetor, que quer manter a criança segura e próxima, não permitindo que ela se desenvolva e aprenda de forma independente. Mas, para crescer é preciso sair da casa de nossos pais e fazer a nossa própria casa. Da mesma forma a insistência em entrar no silêncio e mergulhar sob as ondas dos pensamentos é como uma dolorosa saída de casa, só para encontrar a paz e a alegria de chegar ao verdadeiro lar, o nosso verdadeiro Eu, em Cristo. A razão pela qual o “ego” joga estes jogos e resiste fortemente à atração do silêncio é que ele teme a mudança, a mudança implica diferentes táticas de sobrevivência. O “ego” passou toda a nossa infância aperfeiçoando nossas respostas ao nosso meio ambiente para garantir a continuidade de nossa existência, e é muito confortável para nós que continuemos dessa maneira. Mas, vimos como, em sua maioria, essas nossas respostas habituais estão agora obsoletas.
Quando tentamos mergulhar no silêncio, o ‘ego’ vai enfatizar e aumentar a consciência que temos dos pensamentos, como uma barreira para ir mais fundo. Eles dançam loucamente para nos levar à distração, e ao desespero, de modo a assumirmos que a meditação não é para nós. No entanto, se perseverarmos, lacunas aparecerão entre os nossos pensamentos: portas para entrar no silêncio. Mesmo a paz e o silêncio, que então alcançamos, tornam-se uma maneira para o ‘ego’ nos tentar, encorajando-nos a deixar o mantra. Podemos nos convencer de que o mantra perturba a paz depois que entramos num transe leve e agradável, a “paz perniciosa”. Então, tendemos a esquecer do mundo, de nós mesmos, e de nossa jornada. Assim, o ‘ego’, uma vez mais, impede nosso progresso.
Mas, se conseguirmos continuar agarrados ao mantra, o ‘ego’ poderá sussurrar para nós: Não é chato isso, apenas repetir uma palavra? Não fique apenas sentado aí, faça alguma coisa! Ele quer que a gente saia e esqueça essa jornada, numa frenética atividade de diversões e trabalho. No entanto, a meditação é uma disciplina da contra-cultura que nos pede para fazer o oposto: não apenas fazer alguma coisa, sente-se lá. Somos encorajados a permanecer fiéis a uma única coisa.
Se ainda estamos meditando, mas achamos isso difícil, o ‘ego’ poderá tentar uma abordagem diferente, jogando com a nossa necessidade de diversidade, levando-nos a considerar: você tem certeza de que este é o método correto, ou o mantra certo? Você não deveria mudar o seu mantra? Encorajando-nos a interromper, e mudar novamente, o ‘ego’ tenta fazer com que não estejamos indo a lugar algum. Em vez disso, lá vamos nós em nossa busca incansável, evitando o trabalho real de nos tornarmos conscientes.
O pensamento de que isso é autoindulgência, de que devemos fazer algo de útil para os outros, aparece frequentemente. Esta tem sido muitas vezes a acusação lançada contra os contemplativos ao longo dos tempos. Lembra-se da história de Maria e Marta? No entanto, só poderemos ser um verdadeiro apoio para os outros, quando o nosso ‘ego’ for curado, e o nosso ‘verdadeiro eu’ guiar nossas ações: “Adquira a paz interior e milhares em torno de você encontrarão a salvação” (São Serafim de Sarov).
por Kim Nataraja
Até a próxima semana!
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL