carta 3 – Da ignorância ao conhecimento
Ao ler contemplativamente o ensinamento de Jesus no Evangelho de Tomé, como Lectio Divina, combinado com a meditação, a oração contemplativa, somos levados a ver a Realidade como ela realmente é. Experimentamos que, em nossa essência, já somos um com o Divino através da consciência de Cristo que habita em nossos corações. Mas Jesus está muito consciente de nossa dificuldade em fazê-lo: “O Reino do Pai está espalhado sobre a terra, e as pessoas não o veem”.
Uma vez que encobrimos nossa essência Divina dentro de nós, concentrando-nos em nosso corpo material e suas necessidades, estamos “bêbados” e “cegos”: Jesus disse: “Eu tomei minha posição no meio do mundo, e na carne eu apareci a eles. Encontrei-os todos bêbados, e não encontrei nenhum deles com sede. Minha alma doía pelos filhos da humanidade, porque eles são cegos em seus corações e não veem, pois eles vieram ao mundo vazios, e eles também procuram se afastar do mundo vazios. Mas agora eles estão bêbados. Quando eles se livrarem do seu vinho, então eles se arrependerão.”
Este Evangelho desafia-nos a abandonar os nossos modos habituais de percepção, a “arrepender-nos”, a experimentar uma “metanóia”, a mudar o nosso modo de ver e de ser. Isso requer humildade e honestidade para deixar de lado nossas falsas imagens de nós mesmos, nossas máscaras de “ego”, nossas “roupas”: “Seus seguidores disseram: “Quando o senhor aparecerá para nós e quando o veremos?” Jesus disse: “Quando vos despirdes sem vos envergonhardes e tomardes as vossas roupas, colocá-las debaixo dos vossos pés como criancinhas e as pisardes, então vereis o filho do Vivente e não tereis medo.”
Isso realmente não é tão diferente do que Jesus disse nos Evangelhos Sinóticos: “Qualquer um que queira ser um seguidor meu deve deixar a si mesmo (ou seja, as ilusões do ‘ego’) para trás”. Uma vez que rompamos as restrições do “ego”, seremos livres, não mais aprisionados. Tudo o que precisamos fazer é acordar e descobrir quem realmente somos. Esta busca é o elemento mais importante da nossa vida: Jesus disse: ” Aquele que procura, não cesse de procurar até quando encontrar; e quando encontrar ficará perturbado; e ao perturbar-se, ficará maravilhado e reinará sobre o Todo.’
É preocupante perceber que a realidade que aceitamos como a única realidade objetiva e permanente é de fato impermanente, sujeita a mudanças constantes, moldada pelos pensamentos, imagens e necessidades de nosso ser material. Mas se perseverarmos na meditação, podemos romper o véu dessas ilusões e nos tornarmos conscientes de nossa verdadeira natureza e da verdadeira natureza da realidade. O resultado será então uma verdadeira sensação de admiração, vamos “maravilhar-nos”.
A partir desses poucos ditos do Evangelho de Tomé, fica claro como o ensinamento de Jesus aqui corresponde ao que temos falado. O autoconhecimento obtido no silêncio da profunda oração contemplativa leva ao conhecimento da Realidade Divina, que é o Amor e, consequentemente, à compaixão pelos outros: “Há luz dentro de uma pessoa de luz, e ela brilha sobre o mundo inteiro”.
Kim Nataraja