Carta 37 – Autoconhecimento e Cura
Cara(o) Amiga(o)
Ao pedirmos às pessoas que se tornem mais conscientes daquilo que as bloqueia no caminho do verdadeiro autoconhecimento, muitas vezes encontramos resistência. A resposta pode ser: ‘Certamente eu sei quem eu sou nesta fase da minha vida.’ ou ‘Há muitas coisas no meu passado que eu realmente não quero enfrentar; não há necessidade disso, está resolvido, estou bem como estou.’
Claro que sabemos quem somos em um determinado nível. Mas, o que estamos falando é de nosso eu superficial, capturado e condicionado por experiências passadas. Podemos até aceitar no nível intelectual que talvez nós sejamos mais do que pensamos que somos. Assumimos que o ego não é a plenitude de nosso ser; acreditamos no que foi dito que o Reino também está dentro de nós. Mas, muitas vezes é bastante desafiador podermos fazer mais do que apenas aceitar isso com confiança e esperança, e trabalhar para experimentar essa verdade em nós mesmos.
John Main OSB estava muito ciente disso. Em ‘Totalmente Vivo’, ele explica que “A maioria de nós gasta muito de nossas energias suprimindo sentimentos de culpa, medos, ou o que quer que seja. Quando você começa a meditar, depois de algum tempo, eliminamos essas supressões e, assim, o medo de que você estava se afastando, ou a culpa que você estava tentando enterrar, gradualmente borbulham até a superfície e, assim, você pode vir a sentir que, após sua meditação, em vez de se sentir mais profundamente relaxado, você se sente vagamente ansioso, vagamente preocupado, sem ter certeza do por que.”
Neste ponto muitos de nós se afastam e pensam “Meditação não é para mim; devo estar fazendo algo errado. Não está me ajudando em nada”. O sub entendimento da meditação meramente como uma forma de relaxamento, uma maneira de esquecer nossos problemas e de suprimir partes de nossa natureza com as quais não gostamos de ser confrontados, pode significar que praticamos por anos sem qualquer aumento na consciência do nosso potencial. Em vez de alcançar o autoconhecimento e a totalidade integrada, permanecemos fragmentados.
E, ainda assim, ouvimos Jesus dizer no Evangelho de Tomé: “Quando vocês se conhecerem, então vocês serão conhecidos, e entenderão que são filhos do pai vivente. Mas se vocês não se conhecem, então vocês habitam na pobreza, e vocês são a pobreza.” (Evangelho de Tomé 3)
É claro que não queremos ‘habitar na pobreza’; queremos experimentar esse sentimento de totalidade, integração e harmonia.
A razão pela qual pensamos que não somos capazes de fazer isso é a de que partimos do pressuposto de que se trata de uma tarefa que temos que cumprir por conta própria. Mas, John Main continua: “O poder da meditação reside no seguinte: à medida que você persevera no caminho, aquilo que você está suprimindo, ou o medo que você não pode enfrentar, ou a culpa que você não quer admitir, é, por assim dizer, queimada no fogo do Amor Divino. Muitas vezes, você nunca saberá conscientemente o que era, mas ele se foi e se foi para sempre.”
Não há, portanto, nada para que demande esforço; não se trata de uma ‘realização’ – ‘realização’ e ‘meta’ são palavras do ‘ego’ e, portanto, não são relevantes neste caminho. Só precisamos lembrar da centelha divina inerente à nossa natureza humana. A esperança e a confiança provenientes desse conhecimento, desse potencial inato, tornam nossa prática de meditação significativa e a retiram da esfera do mero relaxamento.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL