Carta 38 – O problema com o silêncio
Cara(o) Amiga(o)
Em nossa Cultura Ocidental não reconhecemos a necessidade de silêncio e quietude. Muitos inclusive sentem-se desconfortáveis com o silêncio, até ameaçados por ele, como John Main diz em “A Palavra que leva ao Silêncio”: “[O Silêncio] é um grande desafio para as pessoas do nosso tempo, porque a maior parte de nós tem pouquíssima experiência com o silêncio, e o silêncio pode ser terrivelmente ameaçador para as pessoas na cultura em que vivemos.” Tente contar a alguém que você deseja um período de total silêncio e solidão e observe a sua expressão de surpresa e incredulidade. Podem até tomar isso como uma prova de que você é ligeiramente excêntrico, para dizer o mínimo, ou possivelmente como um sinal de uma depressão latente. Podem até acusar você de ser egoísta, de beirar o antissocial. Os únicos que realmente irão te entender são aqueles que praticam meditação.
O desejo por solidão e silêncio é estranho à nossa cultura. Nossa sociedade valoriza uma atitude ambiciosa, realizações, empolgação, ser sociável, mudança e atividade. O resultado disso é que somos frequentemente ultra estimulados, e acostumados a atividades frenéticas, e então nossa característica básica se torna a da agitação. Não podemos esquecer que a agitação, de qualquer maneira, nos parece uma condição natural uma vez que está em nossos genes: nossos ancestrais foram membros de tribos migratórias. Apesar de que a agitação é um problema humano real, é algo ainda mais relevante no Ocidente. Estamos sempre em movimento, sempre engajados em um ou outro projeto e, frequentemente, fazendo várias tarefas ao mesmo tempo. Especialmente aqueles de nós que vivem em grandes cidades, realmente, parecemos pessoas que estão sempre indo de um lugar para o outro: indo ao trabalho, saindo para se divertir, visitando amigos. Nossa agitação também se estende para uma necessidade de variedade e mudança, mesmo com relação aos nossos empregos, os restaurantes e bares que frequentamos, e até os amigos que temos.
Mas, estamos perdendo algo precioso quando ignoramos o valor do silêncio. Apesar de toda a atividade no mundo, esta forma de viver era considerada pelos primeiros cristãos como um sinal de estar adormecido, até mesmo embriagado. Paradoxalmente, estar acordado, plenamente vivo era, e é, conquistado somente através do silêncio e da quietude. O caminho é a meditação, a oração profunda e silenciosa.
Na meditação, ao permitir que o nosso corpo fique em quietude, dando a ele a permissão de não fazer nada, nós damos o primeiro passo de contra-ataque a esta tendência de agitação. Somente através da perseverança é que reduzimos o nosso ímpeto para nos mover e fazer coisas, e nos tornamos conscientes da quietude e do silêncio. Ao repetir a nossa palavra com fidelidade e amor, entramos no silêncio. Nós não criamos o silêncio. “O silêncio está lá, dentro de nós. O que nós precisamos fazer é entrar dentro dele, nos tornarmos silenciosos, nos tornarmos o silêncio. O propósito da meditação e o desafio da meditação é permitir a nós mesmos que nos tornemos suficientemente silenciosos para permitir que este silêncio interior apareça. Silêncio é a linguagem do Espírito.” (A Palavra que leva ao Silêncio)
Meditar é descobrir a sua verdadeira natureza: você é parte de uma rede interconectada e abrangente da vida; o Divino está dentro de nós e no meio de nós, se nos tornarmos silenciosos o suficiente para ouvir o som da Ausência de Som, o nome do que Não tem Nome.
Kim Nataraja
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL