carta 39 – A busca humana por sentido
A busca por sentido sempre formou um aspecto importante do ser humano, mas parece ter se tornado uma busca mais urgente em nosso tempo. Apesar da nova visão do Cosmos vista através dos olhos dos físicos quânticos e cosmólogos modernos, em que a humanidade está intimamente envolvida com o que está acontecendo no Universo – nossa consciência provou desempenhar um papel integral –, muitos de nós ainda estamos presos à visão do universo de Descartes e Newton. Sua visão pintava a humanidade como isolada e sem sentido, meros observadores desapegados de um “universo mecânico” que não precisava de nossa contribuição ou envolvimento. Essa visão de estarmos sozinhos, [sermos] insignificantes em um Universo indiferente foi agravada pela sensação de alguns de que a imagem de Deus retratada na religião tradicional não faz mais sentido em nosso mundo moderno e científico. Isso pode resultar em uma sensação de estarmos ainda mais sozinhos, sem apoio na vida, o que pode levar à depressão ou ao outro lado da mesma moeda – a violência.
Além disso, nossa consciência das primeiras marcas emocionais e sociais que moldam nossa imagem, comportamento e atitude em relação ao mundo, nos faz sentir ainda mais fora de controle, autômatos com reações “automáticas”, o que aumenta esse sentimento de falta de sentido. Podemos até sentir-nos impotentes para mudar; experimentamo-nos como prisioneiros de nossos condicionamentos passados, prisioneiros de nossas próprias necessidades não atendidas, ou seja, prisioneiros do “ego”. Mas podemos mudar. Talvez não as nossas circunstâncias, admito. Mas, por mais difíceis que sejam, podemos optar por mudar nossa atitude diante dessas circunstâncias: temos a escolha de não reagir da maneira habitual; somos capazes de sair da prisão que o passado pode parecer ser.
O grande presente aqui é a meditação, com sua ênfase em deixar de lado pensamentos e imagens, com a ajuda de nossa palavra sagrada, nosso mantra. A imagem de Deus não importa mais, o que pensamos sobre Deus não importa mais, mas a experiência espiritual é equivalente. O compromisso com a meditação regular abre uma maneira mais profunda, interior e intuitiva de conhecer, imbuída de significado, muitas vezes chamada de nosso “Olho do Coração”. Este é um saber que é sabedoria em vez de conhecimento. Então ouvimos claramente no silêncio os sussurros da voz interior do “eu” em vez da superfície tagarela do “ego”. O “eu” nos desafia a “tomar nossa cruz” e ajuda o ego a crescer com seus insights, e assim possibilita as mudanças necessárias e a integração de todo o nosso ser. Podemos superar nossas respostas aprendidas na liberdade do momento presente; [uma] escolha, uma resposta criativa livre é possível. Uma vez que nos tornamos conscientes disso, estamos [alguns] passos mais perto de afrouxar os laços que nos prendem na superfície.
Nosso verdadeiro “eu” com sua conexão com o Divino é nossa fonte e força, trazendo consigo sabedoria e compaixão. Depois, redescobrimos o sentido da vida que havíamos perdido de vista. Não estou falando de um sentido geral da vida para todos. Cada um de nós tem um significado único e individual. No Cristianismo há uma forte tradição do conceito de “chamado” e “destino” – somos chamados de “pelo nome”. (Isaías) Cada um de nós é único e especial. “Chamar” sempre parece sugerir algo grandioso, fazer algo especial, mas pode significar simplesmente ser chamado para ser quem realmente somos, onde estamos: por exemplo, um bom pai ou amigo, capacitando os outros a crescer.
A meditação, com sua ênfase em prestar atenção ao nosso mantra, nos permite retirarmos o foco de nós mesmos e de nossas necessidades e desejos e nos voltarmos não apenas para o Divino, mas também para nossos semelhantes. Quão diferente seria então o nosso mundo? Ouça Thomas Merton: “Então foi como se de repente eu visse a beleza secreta de seus corações, a profundidade de seus corações onde nem o pecado, nem o desejo, nem o autoconhecimento podem alcançar, o núcleo de sua realidade, a pessoa que cada um é aos olhos do Divino. Se ao menos eles pudessem se ver como realmente são. Se pudéssemos nos ver assim o tempo todo. Não haveria mais guerra, não haveria mais ódio, não haveria mais crueldade, não haveria mais ganância.”
Kim Nataraja