Carta 36 – Autoconhecimento como Primeiro Passo em Direção ao Divino

 Cara(o) Amiga(o)

A importância de ter um guia espiritual ao se aventurar no silêncio não pode ser superestimada. Na tradição cristã Jesus é nossa âncora, bem como nossa porta para o reino espiritual. Na consciência cósmica mais ampla sua energia e consciência ainda está lá para nos conectarmos. Esse é o verdadeiro significado de “eu sempre estarei lá”. A segunda vinda é vista por muitos místicos não como um evento histórico futuro, mas como um evento interior pessoal que pode acontecer a qualquer momento. Meister Eckhart, assim como Santo Agostinho antes dele, viu isso como “o nascimento de Cristo na alma”.

Ver Jesus dessa maneira espiritual é, para muitos em nosso tempo, difícil por causa de um condicionamento religioso muito negativo, mas como Laurence Freeman diz em ‘Jesus, o Mestre Interior: “Ignorar Jesus por causa das imperfeições das igrejas é uma tolice de dimensões trágicas… O cristianismo, por outro lado, deve ser transformado.” Não só o cristianismo precisa ser transformado, mas nós também.

A experiência de Meister Eckhart ensinou-lhe que o avanço da consciência da realidade comum para a realidade superior vem antes da transformação do nosso ego-consciência. Muitos meditantes em nossa tradição tiveram a mesma experiência, até mesmo no início da jornada. “Inicialmente, sua presença só pode ser vislumbrada, algo pelo qual simplesmente temos que esperar.” (‘Jesus, o Mestre Interior’)

No entanto, este vislumbre é suficiente para nos despertar, como diriam os primeiros cristãos, e tudo o que pensamos e fazemos é visto sob uma luz diferente. Esta é a dádiva do amor, a graça do Espírito, o Cristo interior, que estende a mão para nós. Uma vez que tenhamos tido um vislumbre do amor que habita em nosso centro, e saibamos que somos aceitos assim como somos, teremos a coragem de enfrentar nossas próprias limitações; poderemos aceitar nossas sombras e integrá-las na totalidade do nosso ser, o que nos permite aceitar as sombras dos outros com compaixão.

Com essa percepção, nos tornamos conscientes do quanto tem sido deformada nossa percepção da realidade devido a múltiplas formas de condicionamento, e isso lentamente nos transforma. Não somos mais governados e aprisionados pelo passado, mas podemos ficar no momento presente, onde está a realidade divina. Então, começa o processo de “purificação do nosso coração”, que muitas vezes é chamado de estágio de purgação no caminho espiritual. Gradualmente, com o tempo, o amor nos torna cada vez mais conscientes das limitações de nosso egocentrismo e nos permite entrar na liberdade que transcende o ego, tornando-nos mais centrados no Outro, mais centrados em Cristo. Considerando que antes “víamos através de um vidro escurecido”, conforme nossa percepção é clarificada, vemos e ‘conhecemos’ Cristo como ele realmente é e vemos a nós mesmos como realmente somos.

Tudo o que temos que fazer é prestar atenção à nossa palavra, ouvir profundamente nossa palavra, e estar abertos aos insights recebidos. No silêncio começamos “a nos virar para o outro, para deixar o Eu para trás; e isso é amar” (‘Jesus, o Mestre Interior’).

Kim Nataraja

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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