Carta 32 – Nossos sentidos interiores

Cara(o) Amiga(o)

 Com o crescente desapego de nossos condicionamentos e de nossa necessidade de usar o mundo e as outras pessoas como apoios emocionais, às vezes deixamos para trás as coisas que nos atrapalham. Haverá momentos, ainda que passageiros, em que entramos em uma outra realidade, o mundo espiritual, transcendental, que John Main chama de “nível do silêncio, onde vemos maravilhados a luz de nosso próprio espírito”, “onde entramos em contato com o fundamento de nosso ser”, e “onde experimentamos o vazio”. E, nas palavras de Laurence Freeman, onde experimentamos “Paz, consciência da Presença de Deus”, e estamos “frente ao ego desnudo”, o ‘ego’ sem todos aqueles seus desejos desordenados e feridas emocionais.

Quando entramos no silêncio desse modo profundo, um modo de conhecimento diferente é ativado: deixamos para trás nossa consciência puramente racional e lógica, e começamos a entender as coisas com um tipo de conhecimento intuitivo mais elevado, direto e imediato, que os primeiros teólogos frequentemente chamavam de ‘O Olho do Coração’.  Ganhamos acesso à profunda fonte interior da verdadeira sabedoria, a consciência de Cristo em nosso coração. Quanto mais penetramos o silêncio e a imobilidade da meditação, mais clara se torna nossa compreensão intuitiva. Nós apenas ‘sabemos’. Isso transborda nossa vida cotidiana e, passamos a seguir, cada vez mais, a voz de nossa intuição.

Orígenes, um dos Padres da Igreja primitiva, foi quem primeiro mencionou os sentidos interiores. Ele enumera cinco outros sentidos, além dos nossos sentidos físicos comuns. A alma também tem sua visão, seus ouvidos, seu paladar, seu olfato e seu tato.

Todo o propósito da meditação é o de despertar esses sentidos. Assim, ao trazer a mente para o coração, nosso eu racional não domina mais nosso ser, mas nosso eu intuitivo, nosso verdadeiro eu, pode infundir o ego, o eu racional, e os dois, lentamente, são integrados. Então, seremos verdadeiramente completos. Agora, lembramos quem realmente somos. A meditação nos ajuda a experimentar Cristo como uma força viva em nós, energizando, curando, transformando, levando-nos a uma maior consciência, integridade e compaixão.

É importante lembrar que isso não é algo que se destina apenas a uma elite; isso faz parte de nossa natureza humana. Uma das pedras fundamentais da psicologia junguiana afirma que existe uma tendência intrínseca para a plenitude e a integração, no interior da psique de todas as pessoas, o que também é evidenciado por essa citação de Santo Agostinho:

“Todo o propósito dessa vida é o de restaurar a saúde do olho do coração, por meio do qual Deus pode ser visto”.

Até a Próxima Semana

Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL

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