Carta 45 – A Tradição Contemplativa
Cara(o) Amiga(o)
O fato de que a meditação, essa oração contemplativa, é autenticamente cristã, pode também ser percebido pelo fato de que em muitas tradições cristãs a oração silenciosa constitui o centro da devoção. Nos primeiros vinte anos de sua própria jornada espiritual, Sta. Tereza d´Ávila, na tradição Carmelita, foi profundamente influenciada por um livro devocional popular da época chamado ‘Terceiro Alfabeto Espiritual’ de autoria de Francisco di Osuna, um monge Franciscano, cuja recomendação era que se orasse repetindo uma frase espiritual. Seguindo a sua orientação, ela foi levada da oração discursiva, para aquilo que ela denominava ‘oração da quietude’ ou mesmo ‘oração da união’. Estas formas de oração são caracterizadas pelo silêncio e tranquilidade interiores, cada vez mais profundos. É uma maneira de abrir o coração a Deus, em oração.
A ‘Oração de Jesus’ que se tornaria conhecida no Ocidente no século 19 através de um livro encantador chamado ‘Relatos de um Peregrino Russo’, de autoria desconhecida, era uma continuação da tradição de oração da Igreja Cristã Ortodoxa Oriental, conhecida como “Oração do Coração”. Aqui, vemos novamente que a ênfase está na repetição de uma frase-oração que nos leva ao silêncio e à solitude interiores. Tanto essa tradição, como aquela redescoberta para nós por John Main, nos escritos de João Cassiano, baseia-se nos ensinamentos dos Padres do Deserto: Evágrio Pôntico foi uma importante fonte e inspiração para eles.
Na Inglaterra do século 14, é o livro ‘A Nuvem do Não Saber’, também de autoria desconhecida, que nos sugere a mesma forma de oração. O autor recomenda ‘penetrar o coração de Deus com um dardo flamejante de amor’. Para tal devemos concentrar todo nosso amor e atenção numa só palavra. O autor sugere usar uma palavra simples como “Deus” ou “Amor” que expresse a intenção que está em nosso coração. O movimento de Thomas Keating, da ‘Oração Centrante’, se inspirou neste livro.
O autor do ‘A Nuvem do Não Saber’ expressa tudo aquilo que fundamenta os ensinamentos da Tradição mística cristã, a saber, temos que abandonar nossos pensamentos, concentrando-nos em uma só palavra: “Fixe-a em sua mente para que ali permaneça, não importando o que possa acontecer”. Ou, como dizia John Main: ‘Simplesmente repita a sua palavra’.
Todos os orientadores espirituais aqui mencionados fazem parte da tradição mística da ‘via negativa’ (apofática): Deus não pode ser conhecido ou revelado ao nosso limitado poder de pensamento racional. Portanto, temos que abrir mão do pensamento, de todos os pensamentos, quer sejam a respeito de coisas seculares, quer sejam de caráter espiritual, para estarmos mais abertos a Ele, para ouvirmos profundamente a ‘voz pequena e quieta’. Enfatiza-se o Amor, na repetição amorosa e fiel de sua oração.
As diferenças que existem em nosso tempo por exemplo entre a Tradição Carmelita, ‘Oração Centrante’, e “A Comunidade Mundial para a Meditação Cristã’, são bem menores do que as correspondências existentes entre nossas respectivas formas de oração. Nossa inspiração pode vir de fontes diferentes, mas estamos todos engajados na tentativa de reunir pessoas no caminho espiritual, através de uma forma autêntica de oração que leva ao silêncio e à consciência da Presença de Deus em nosso coração.
Até a Próxima Semana
Escola da Comunidade Mundial para a Meditação Cristã
BRASIL