Sábado da Quinta Semana da Quaresma
Antes de me tornar monge, tive várias mini-carreiras, incluindo alguns anos em um banco mercantil em Londres. Pagava bem, e o trabalho foi bastante interessante no início. Eu tinha ido lá para dar uma pausa na vida acadêmica e aprender o que realmente fazia o mundo girar: amor ou dinheiro. Eu não tinha vontade de subir na escalada corporativa, mas gostava dos meus colegas e achava as personalidades e interações bastante instrutivas, sobre a minha outra grande pergunta: qual é o sentido da vida e o que acontece com você ao longo do tempo?
Talvez tenha sido essa pergunta que me levou a decidir fazer um retiro – o meu primeiro – num mosteiro. Eu não tinha muita ideia do que isso significava, talvez oração, silêncio, estar sozinho, comida simples. Não saiu como eu esperava. Quando cheguei, decidi jejuar, pois achava que isso poderia me preparar para experiências espirituais mais elevadas. O que recebi foi uma primeira noite de pesadelos intensos, que foi algo novo para mim, e me deixou muito abalado. Depois de uma seguiu-se outra, e me acordava toda vez com um medo frio e desforme. Ninguém no mosteiro se interessou por mim, mas pedi para falar com alguém, e um velho monge de aparência bondosa veio me ver. Descrevi minha experiência noturna e ele parecia incerto sobre o que dizer; mas quando mencionei que estava jejuando, ele se iluminou como se tivesse encontrado a resposta. “Era o diabo”, disse confiante. Esperei mais informações e ele disse ‘você vê o diabo; viu que você estava jejuando e decidiu te atacar porque você estava fraco. Faça um bom almoço e você vai ficar bem’.
Na minha segunda e última noite, fui para o meu quarto depois das completas, estava lendo antes de ir para a cama. De repente, houve uma batida rápida em minha porta. Abri e encontrei um dos outros velhos monges parecendo muito ansioso e acenando para segui-lo ao corredor. Perguntei-lhe qual era o problema e, enquanto ele avançou à minha frente, tudo o que ouvi foi ‘missa, missa. Não há ninguém para servir a missa. Rápido!’ Antes de chegarmos à capela, o abade apareceu, pediu desculpas e me resgatou dos delírios da demência monástica.
As coisas raramente, ou nunca, saem como esperamos. Os jogos aleatórios que os múltiplos universos jogam em nós são infinitos. Levou muito tempo até que eu entrasse em outro mosteiro para aprender com o ensinamento e o exemplo pessoal da pessoa mais sábia e sã que conheci, antes ou depois. Sabedoria, bondade, sanidade pessoal e com quem aprendemos, fazem toda a diferença em nossa vida. Mas mesmo assim as coisas nunca saem como você espera.
Texto original
Saturday Fifth Week of Lent
Before I became a monk I had several mini-careers including a couple of years in a merchant bank in London. It paid well and the work was quite interesting at first. I had gone there to get a break from academia and learn what really made the world go round: love or money. I had no desire to climb the corporate ladder but I liked my colleagues and found the personalities and interactions quite instructive about my other big question: what is the meaning of life and what happens to you over time?
It was this question perhaps that led me to decide to do a retreat – my first – in a monastery. I didn’t have much idea of what that meant, maybe prayer, silence, being alone, simple food. It didn’t turn out quite as I expected. When I arrived, I decided to fast as I thought that might prime me for higher spiritual experiences. What I received was a first night of intense nightmares which was something new for me and left me very shaken. One followed another and woke me up each time in a cold formless fear. No one in the monastery had taken any interest in me but I asked to speak to someone and an old kind looking monk came to see me. I described my night experience and he looked uncertain what to say; but when I mentioned I had been fasting he brightened up as if he had found the answer. ‘It was the devil,’ he confidently said. I waited for more information and he said ‘you see the devil saw you were fasting and decided to attack you because you were weak. Have a good lunch and you’ll be fine.’
My second and last night I went to my room after compline and was reading before going to bed. Suddenly there was a rapid knocking at my door. I opened it to find one of the other old monks looking very anxious and beckoning me into the corridor to follow him. I asked him what was the problem and as he shuffled ahead of me all I heard was ‘mass, mass. Theres’s no one to serve the mass. Quick!’ Before we got to the chapel the abbot appeared, apologised and rescued me from the delusions of monastic dementia.
Things rarely, if ever, turn out as we expect. The random games that the multiple universes play on us are infinite. It was a long time before I entered another monastery to learn from the teaching and personal example of the wisest and sanest person I have known before or since. Wisdom, goodness, personal sanity and who we learn from make all the difference to our life. But even then things never turn out as you expect.