Segunda semana da Quaresma

Terça-feira da Segunda Semana da Quaresma

Por Laurence Freeman OSB

Decolando

Esbarrando nos sulcos congelados
Até que um solo marrom duro
Torna-se uma canção, uma trenódia
Da dor que é minha e de mais ninguém

Um alívio, subir acima do topo
De arbustos sem botões e árvores nuas
Cujos dedos finos e ossudos tentam
Tocar qualquer coisa

Ao contrário de uma criança que sabe
Que é melhor não perguntar, pergunto
Por que este funeral da terra
Para onde foi o verde da vida?

Então, nos himalaias de nuvens
Nada sabendo
Do mundo expirado,
Aparece o azul safira da mente

Keats, que obviamente não escreveu o poema acima, morreu jovem e, como muitas pessoas mais velhas, teve que enfrentar o desespero provocado por seu potencial não realizado e sua juventude perdida. (Sua poesia tornou-se muito popular durante a Covid.)

Ele lutou por muito tempo com a contradição da morte como algo a ser evitado a todo custo e ainda assim desejada como a fonte da paz pela qual anseia a psique humana. Essa tensão está no coração de qualquer abordagem verdadeiramente religiosa da vida, o que significa ver a vida como uma maravilha sagrada.  A difícil morte de seu irmão, de quem John cuidou, causou nele uma mudança permanente. Seu caminho através do paradoxo tornou-se o que ele chamou de “morrer para dentro da vida”. Significa encontrar a paz da aceitação do sofrimento.

Penso que a nossa meditação diária é uma forma de morrer para dentro da vida, não por usar o tempo precioso para analisar nossos problemas pela milionésima vez ou mergulhar em ressentimento e tristeza ou construir uma realidade alternativa que chamamos, erradamente, de desapego ou pensar que somos iluminados. Trata-se de encontrar o pequeno ponto, pequeno demais para o ego entrar, onde a aceitação é secretamente alcançada. Dificilmente pode-se observar, ou lembrar, como isso acontece, mas é inegável: sabemos que morremos para alguma coisa e vivemos com uma paz que o mundo, por si só, não pode dar.

Keats também era apaixonado pelo mistério da beleza. Sem a experiência da beleza que, junto com a verdade e a bondade, é um dos três atributos de Deus, não conseguimos encontrar este pequeno ponto onde abandonamos tudo e nos tornamos ricamente pobres. A beleza, mesmo em suas breves aparições, é avassaladora.


Texto original

Tuesday Second Week of Lent

Taking Off

Bumping over frozen ruts
Until hard brown ground
Becomes a song, a threnody
Of no one’s pain but mine

A relief to rise over the tops
Of budless bushes and naked trees
Whose thin bony fingers try
To touch anything

Unlike a child who knows
Better than to ask, I ask
Why this funeral of earth
Where is the green of life gone?

Then, into himalayas of clouds
Knowing nothing
Of the expired world,
Appears the sapphire blue of mind

Keats, who of course did not write the poem above, died young and, like many older people, had to face despair about his unrealised potential and lost youth. (His poetry became very popular during Covid.) 

He had long struggled with the contradiction of death as something to be avoided at all costs and yet desired as the source of the peace the human psyche longs for. This tension is at the heart of any truly religious approach to life, meaning seeing life as a sacred wonder. The difficult death of his brother who John nursed changed him permanently. His way through the paradox became what he called ‘dying into life’. It means finding the peace of accepted suffering.

I think our daily meditation is a way of dying into life, not by using the precious time to analyse our problems for the millionth time or to wallow in resentment and self-sorrow or to construct an alternative reality we call miscall detachment or thinking we are enlightened. But it is to find the small point, too small for the ego to enter, where acceptance is secretly accomplished. How this happens can hardly be observed or remembered but it is undeniable: we know we have died to something and live with a peace that the world alone cannot give.

Keats was also in love with the mystery of beauty. Without the experience of beauty, one of the three attributes of God, along with truth and goodness, we could not find this small point where we let go of everything and become richly poor. Beauty even its brief appearances is overwhelming.

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